Depois de uma certa idade, não há quem nunca tenha pensado a respeito da própria finitude. Ou da finitude, como um todo.
Fernanda Torres pensou em (pelo menos) cinco.

Mas venha comigo entender algumas das razões pra isso.
A trama narra a história de cinco amigos que se conheceram e moram no Rio de Janeiro. Só que ela não faz isso de forma linear. Dividiu o romance em cinco partes, e cada parte abre com a data de nascimento e de morte do personagem em questão. Além disso, cada uma delas começa sendo narrada em primeira pessoa, com o futuro finado como protagonista, até o momento de sua morte. Daí pra frente dentro do mesmo capítulo, a trama passa a ter uma narrativa focada na vida daquele personagem tal como vista pelas pessoas de suas vidas: filhos, esposas, amantes, amigos - aqui, em terceira pessoa, com um narrador onisciente. E nós, leitores, ficamos sabendo o que cada um dos amigos pensa a respeito do outro, como as famílias de um com a do outro se davam - ou não - e que tipo de desfecho teve aquela tal trama.
Assim é que, construindo um romance em camadas, Fernanda Torres consegue prender a atenção do leitor com uma obra madura e muito bem escrita.

Contudo, não encontramos em Fim (Companhia das Letras, 203 páginas) um romance melancólico sobre os últimos dias. O que vemos é um romance repleto de vida e, como toda vida, culmina com sua extinção. Só que, dentro de tudo isso, encontramos farras, alegrias, dores, amores e desamores, conquistas e descartes, muita vontade de viver, de ser livre, ou de ser livre junto com alguém. Tudo isso permeado pelo sol carioca, por reflexões sobre a nossa própria condição - não apenas a da finitude, mas a humana. Aquilo que nos leva a crer, ou não crer, em algo. Nossas esperanças e medos.
A característica que tornou Fernanda Torres conhecida também está lá: o humor. Mas o romance é muito mais do que isso, e mesmo o humor é feito de uma forma inteligente, sensível.
A sensação que temos é a de que a autora já vinha publicando há anos, tal é o resultado desta obra. Um livro simples mas não superficial, fluido mas que privilegia a inteligência do leitor. Uma obra que, enfim, deve ser lida em breves fôlegos, tal sua intensidade.
E nos resta pedir que Fernanda Torres continue a dedicar-se à arte da escrita. Eis aí uma autora que promete grandes momentos de leituras e uma grande obra.
Fernanda é uma atriz incrível e eu não duvido da excelência dessa mulher em campos literários. Adoro romances que fazem um balanço sobre a vida. Esse já está na minha lista de futuras aquisições.
ResponderExcluirBeijos.