A Culpa é das Estrelas, de John Green

A Culpa é das Estrelas, de John Green


             Tudo começou com Nicholas Sparks, até onde a memória me serve, mas posso estar enganado.


Antes, não se tinha notícias de homens escrevendo romances voltados majoritariamente para o público feminino, e foi através dos livros dele que o gênero foi se abrindo para outros escritores homens, como é moda nesses tempos contemporâneos: alguém faz sucesso com um tipo de livro, e logo uma horda de outros escritores de repente ganham as prateleiras com mais do mesmo. Basta ver o que já saiu na esteira do afamado Cinquenta tons de cinza e Diário de um banana

Foi aí que, nos últimos 10 anos, mais ou menos, as editoras e autores perceberam que, se quiserem ganhar público, têm de ter um diferencial.

Por muitos motivos, quase todos dele bem honrosos, fazendo do autor quase uma Madre Teresa de Calcutá versão nerd, John Green resolveu escrever uma história de amor, digamos, diferente.

O livro A culpa é das estrelas saiu nos Estados Unidos e no Brasil este ano. Na capa, já temos de cara uma recomendação do autor de outro livro que fez bastante sucesso por aqui, A menina que roubava livros. O título faz referência à peça Julius Ceasar, de Shakespeare, na qual, em dado momento, é dito: "A culpa, meu caro Brutus, não é das nossas estrelas, mas de nós mesmos, por sermos subalternos". A ideia do autor é mostrar que sim, há momentos na vida em que, mesmo que você faça tudo bonitinho, ainda assim a vida vai lá e CRAU, tira o teu chão sem você ter feito por onde merecer, ao menos aparentemente (já que os espíritas, dentre outras religiões, vão sempre dizer que isso tem a ver com vidas passadas, que você está pagando agora o que fez em outra encarnação (e pelo visto sendo cobrado com juros e correção) etc etc. Pode ser. Vai saber).

O romance é narrado por Hazel Grace (Hazel em Português significa avelã, e Grace, graça, por aí você já começa a tirar a onda simbólica que o autor quer transmitir), uma menina de 16 anos que tem câncer desde que "virou mulher", como ela mesma diz, já que descobriu o câncer assim que menstruou pela primeira vez. Hazel tem um senso de humor (negríssimo e engraçadíssimo) incrível, e não se faz de vítima em momento algum. Mas, a vida lhe trouxe limitações: ela tem que usar uma cânula no nariz, que é ligada ao Felipe, que é como ela chama o carrinho com o oxigênio, que ela tem de levar pra onde for. 

Lá pelas tantas, num grupo de apoio ao câncer infantil, Hazel se depara com Augustus Waters (outro nome simbólico, já que o nome dele seria algo como águas calmas, em Português, sendo que desta vez, parte do nome vem do Latim, e parte do Inglês), um menino lindíssimo, cujo câncer parece estar em remissão que foi lá para transmitir aos outros que nem todo mundo está condenado a morrer. Augustus já teve uma perna levada pelo câncer (como também é colocado no livro, dessa forma), e usa uma perna mecânica, assim como o Roberto Carlos. A diferença é que o Augustus não morre de vergonha da sua, nem se recusa a falar sobre o assunto. 

Evidentemente que, apesar de todas as recusas, já que Hazel sabe que vai morrer e se enxerga como uma "granada", já que a qualquer momento pode fazer boom e deixar marcas em todos aqueles cuja vida ela tocar, eles se apaixonam. É aí onde entra o diferencial do John Green, que juntou humor negro, filosofia para adolescentes, romance e amor, com câncer. E o interessante é: funciona. Não é um livro triste, nem pesado. Você realmente se diverte com o livro. Mas voltando.

A família do Augustus enche a casa de almofadas com mensagens do tipo "eu sou forte e vou vencer essa" pela casa inteira. Pra onde se olhe, tem uma almofada, uma faixa, algo para encher de força quem se achar condenado a uma morte prematura.

No meio disso tudo, Hazel apresenta para o Augustus um livro chamado Uma aflição imperial, que se torna o livro de cabeceira de Hazel e claro, Augustus acaba por lê-lo também. Só que o livro termina subitamente, no meio de um parágrafo, como se a narradora, que era uma menina com câncer, tivesse morrido ali, e, por motivos óbvios, não tivesse podido continuar o livro. O problema é que o sonho de Hazel é poder falar com o autor e perguntar a ele o que aconteceu com a mãe da personagem, seu hamster, um tal de homem das tulipas, o papagaio, a calopsita etc. Enfim, ela quer encher o saco do autor pra saber o que foi que aconteceu depois daquele fatídico parágrafo cortado ao meio.

É claro que ela consegue visitar o autor - que mora na Holanda - , e é claro que ela tem as respostas dela. Só que não. Nada acontece como deveria, mas isso você só vai saber lendo o livro, meu caro leitor, isso aqui não é resumão pra pegar antes da prova, meninos e meninas.

Claramente concebido para atingir o público adolescente, A culpa é das estrelas vai um pouco além disso. É um livro divertido, capaz de nos fazer pensar um pouco na fragilidade da vida, no quanto tudo é fugaz, e que devemos, realmente, valorizar nossos momentos neste planeta - porque, quando menos percebermos, já éramos. Todos esses clichês juntos, mas é aí que entra outro pequeno diferencial: o livro não é um tratado sobre o carpe diem. É, mais aproximadamente, um canto para almas possivelmente repletas de dor, deixando-as mais leves e ternas. Claro que vai virar filme, claro que vai fazer rios de dinheiro e levar gente disposta a rir e chorar ao cinema. Conquanto o final, a seu modo, também me tenha parecido por demais abrupto, gostei do resultado, como um todo. É um livro interessante para todos aqueles que são adolescentes, seja cronologicamente, seja na alma: certos questionamentos não têm idade. Nem tempo.
Os Filhos dos Dias, de Eduardo Galeano

Os Filhos dos Dias, de Eduardo Galeano




Pesquisando sobre o acaso, cada vez me deparo com mais explicações possíveis e plausíveis. Há até um livro muito interessante sobre o assunto, O Andar do Bêbado, que se propõe a explicar essas forças aleatórias que fazem certas coisas ser o que são.

E foi por ler obras como Os Filhos dos Dias, mais recente livro do escritor uruguaio Eduardo Galeano, que não consigo entender o que torna este homem tão admirado no Brasil e em certos lugares da América Latina.

A premissa é interessante: o autor utilizou-se do formato calendário, e escreveu uma história (cada história tem uma página somente) para cada dia do ano. São relatos curtos, a maioria tendo acontecido naquele dia específico no calendário, e todas terminando com um questionamento ou reflexão. 

A sensação que o leitor tem é a de que o autor tinha um compromisso com sua editora, digamos algo como Dostoiévski, que foi ameaçado por seu editor e, se não entregasse uma obra dentro de "X" dias, não receberia mais um centavo em direitos autorais dali em diante, e pôs-se a escrever algo para cumprir um contrato. A diferença é que, no caso do velho Dosto, o resultado foi o clássico O Jogador, enquanto com Galeano, foi este livro que, francamente, não vale os minutos que se gasta lendo-o no banheiro.

O autor aparentemente foi ao site da Wikipedia, jogou lá as datas do ano, pescou historinhas que vão desde antes de Cristo até os dias de hoje e saiu usando o velho e bom Ctrl + C, Ctrl + V, dava um polimentozinho em cada história e terminava com uma dúzia de palavras que tanto serviam pra preencher espaço como pra não dizer coisa com coisa.

O livro é chato, maçante, e ao terminar, temos a nítida sensação de que o que tínhamos na mão nada mais era que um tremendo estorvo. O autor não consegue ser original em seus comentários, suas pseudo-reflexões são fracas, estapafúrdias, e o livro inteiro tem um tom letárgico, como se o livro tivesse sendo escrito à força.

A certeza que tenho é que, depois desse livro, Eduardo Galeano, nunca mais!