O Louco de Palestra, de Vanessa Barbara



Acompanho a carreira da escritora Vanessa Barbara há pelo menos cinco anos. Não lembro exatamente como começou, o que sei com certeza é que eu a descobri através das crônicas, fossem as mais curtas, publicadas pela Folha de São Paulo ou as mais longas, pela revista piauí ou algum outro veículo nem sempre tão conhecido, lá estava eu, querendo ler mais e mais dessa escritora paulista de Mandaqui, um bairro de São Paulo que a autora parece ter por objetivo tornar mítico, como a Macondo de García Márquez. 

Das crônicas para O livro amarelo do terminal (Cosac Naify, 2008), livro-reportagem que ganhou o prêmio Jabuti e em seguida perfazendo o caminho de volta com o romance O Verão do Chibo (Alfaguara, 2008), escrito em parceria, foi a consolidação de uma necessidade de ter essa autora como parte dos meus hábitos de leitura - e também dos meus afetos literários.

Desde então, vieram outros livros, como o infantil Endrigo, o Escavador de Umbigo (editora 34), o romance em quadrinhos A Máquina de Goldberg (Quadrinhos na Cia, 2012) e o romance Noites de Alface (Alfaguara, 2013).

Vanessa Barbara é prolífica, mas uma produção sem pressa. É desses escritores que conseguem aliar qualidade e assiduidade nas publicações com a destreza de quem equilibra pratos numa competição circense. 

A capacidade da autora de ser muitas foi que levou ao seu mais recente livro, O Louco de Palestra e outras crônicas urbanas (Companhia das Letras, 193 páginas, R$37), composto de crônicas publicadas anteriormente em veículos tão diversos quanto a Folha de São Paulo, a revista piauí ou a Brasil Econômico - o que garante que alguns textos sejam quase inéditos.

No exemplar, logo abaixo do nome da autora, é possível ler "Vencedora do prêmio Jabuti", para o leitor saber que não tem nas mãos uma escritora qualquer. E o subtítulo da obra ("E outras crônicas urbanas") imiscui-se junto ao título, cuja capa, apesar do tom escuro, não é sombria. 

O que importa é que é preciso fôlego para acompanhar o ritmo da autora. Engajada em movimentos sociais, dona de uma ideologia lúcida e sagaz, Vanessa não deixa nada por menos. Se na primeira parte do livro temos a impressão de que a coletânea é "paulista demais", na segunda e terceira parte, Vanessa Barbara nos faz compreender que o aparente microcosmo na verdade é macro - e é mesmo universal. 

Suas crônicas - urbanas desde o título - são fruto dos temas que lhe são caros: o transporte (mais notadamente, o ônibus), o sentimento em relação à polícia, aos políticos, às agregações a que chamamos de sociedade e as dificuldades de se posicionar e se colocar diante do mundo, a complexidade de morar juntos, os diversos tipos de indivíduos e suas singularidades, as agruras sofridas durante viagens internacionais - está tudo lá, de forma plena e repleta de força, verdade e, por que não, um humor fino, sem o qual não se consegue levar o suplício da vida adiante.

Com O Louco de Palestra, Vanessa Barbara demonstra mais uma vez por que tem sido alardeada como uma das grandes novas vozes da literatura brasileira (segundo a revista Granta), além de ser colaboradora de jornais como o The New York Times e, mais recentemente, d'O estado de São Paulo. Encontramos nesta coletânea uma escritora em plena forma, em textos que perpassam diversos anos de sua carreira, que são um valioso apanhado tanto para leitores que já conhecem a voz escritora de Vanessa Barbara como para aqueles que ainda estão por adentrar seu universo. Onde quer que você fique situado como leitor, O Louco de Palestra vale a viagem.