O Se e o Quando

O Se e o Quando


Não é sem frequência que eu noto, à medida em que o tempo vai passando e eu vou conhecendo pessoas e encontrando novos caminhos, um certo pessimismo, uma certa desconfiança e descrença nas pessoas. Não me refiro aqui à falta de religiosidade - isso parece que as pessoas têm de sobra, e é mais uma característica dos desesperançados, porque lhes convém agarrar-se a algo - , nem à sensação de que o mundo vai se tornar um lugar pior. Não é isso.

Refiro-me a uma descrença e desconfiança nelas mesmas. É como se dentro de cada pessoa, o lado da baixa auto-estima se sobressaísse à uma melhor auto-imagem. É algo de foro mais íntimo, mais pessoal. O que te acontecido?

Não há fórmulas prontas para responder a esta pergunta, mas creio que uma das respostas está no fato de que hoje em dia somos tão absurdamente inundados por informações, e a mídia cria tantas necessidades, que não desejá-las parece nos tornar párias, alheios ao mundo. Como se nos recusássemos a evoluir (seja lá o que for essa pretensa "evolução"). E ainda não desenvolvemos, em sua grande maioria, o filtro para tudo isso. 

Assim, a vida dita moderna cria em nós tantos anseios, que ficamos inseguros. Não sabemos mais se conseguiremos melhorar de vida, fazer o mestrado, fazer a viagem dos sonhos, encontrar alguém pra amar que seja também um grande companheiro. Deixamos de ser os cúmplices de nós mesmos para sermos aquilo que as nossas necessidades e obrigações nos impelem a ser. O resultado disso? Insegurança.

Sou a favor de substituirmos os ses de nossas vidas pelo quando

Portanto, nada de "se eu aprender Inglês", "se eu não aprender Inglês", "se a vida fosse mais justa", "se eu falasse a língua dos homens", "se eu tivesse mais tempo".

Se é terreno para abstrações, para impossibilidades, para o pessimismo. Ou para a loucura. Veja só:

"Se eu morrer..." - não parece a frase de um insano? Claro que podemos argumentar que  nunca morremos enquanto permanecermos vivos na mente dos que nos amam, mas somos finitos por natureza e condição. Agora:

"Quando eu morrer...", embora não se queira pensar sobre isso, é não só possibilidade, mas fato. Vai acontecer, só não se sabe quando (ainda bem). O quando implica imediatamente em fato futuro, e não em possibilidade beirando o irrealizável, que o se carrega.

Ao invés disso, inicio aqui minha campanha pelo quando. O quando carrega em si a magia encantadora da possibilidade. É impreciso, claro, mas que bom que seja assim! Já pensou se soubéssemos de antemão todos os nossos caminhos e descaminhos? O poeta nunca teria dito "Que maravilha viver!", porque a vida seria um tédio, um despautério. O quando, por sua vez, é grandioso! Porque é libertador. É o prenúncio de um futuro, de vida, é iluminado, solar, vital.

"Quando eu aprender Inglês", "Quando eu fizer a viagem dos meus sonhos", "Quando meus filhos estiverem crescidos", "Quando as pessoas que amo (e eu mesmo/a) forem mais conscientes de seu lugar no mundo"... Não soa melhor? 

Não só soa, como é. Porque daí entramos no terreno do plausível, do possível, daquilo que seguramente vai acontecer, fazendo por onde.

Quando isso finalmente fizer parte do nosso eu, e colocarmos essa ideia em prática, não haverá o que nos segure.