A chegada do e-reader Kobo Glo na vida de um leitor resistente a tecnologia

A chegada do e-reader Kobo Glo na vida de um leitor resistente a tecnologia



Tenho uma veia um pouco moralista, que gosta muito de dizer que "isso eu nunca...", "aquilo, jamais". A bem da verdade, é que, para algumas coisas, sei que o "nunca" e o "jamais" sempre se imporão ao "talvez", ou à verdade das frases de efeito, como "nunca diga que não beberá dessa água", porque há coisas que sei que não farei ou pela total inaptidão, como pintar um quadro, ou por não ter a menor propensão, como usar cocaína. Ou ter filhos.

O certo é que eu achava que ler livros numa tela, para mim, também entrava nessa lista do "nunca jamais", que livro digital pra mim nem era livro etc etc... embora eu já dissesse aos mais chegados, desde o início, que no dia que o preço barateasse ao ponto de eu achar que se tornara justo, eu arriscaria, ainda que acreditando que, em pouco tempo, ele ficaria encostado num canto. 

Cumpri a primeira parte. A segunda, nem pensar.

Vi há alguns dias uma empresa fazer uma bela promoção no valor desses leitores digitais. Tenho planos de casar num futuro próximo. Pensei, pensei... Será mesmo que preciso disso? Será a hora? Era, embora eu não soubesse exatamente precisar por qual motivo.

Fui à loja, fucei, mexi, li a respeito, tentei me informar. Comprei o tal brinquedo, junto com outros três livros físicos, só pra não me dar por vencido.

Cheguei em casa, coloquei-o pra carregar e fui fazer outras coisas. Na minha cabeça, eu achava que, já tendo muitos livros pra ler em casa, iria baixar aqueles livros que já estão em domínio público, só pra ver como o negócio funcionava, e, no máximo, compraria um livro que quisesse realmente ler, pra não desperdiçar dinheiro.

O que aconteceu de verdade é que, com a ajuda de várias pessoas, já consegui livros maravilhosos, livros que estavam na minha lista de desejos há tempos, e que estão apenas esperando eu terminar de ler o romance que agora leio (na versão papel) para começar a serem desbravados...

O aparelho aceita não apenas arquivos na extensão .epub, mas também em .pdf, .mobi, imagens de várias extensões também... enfim, uma série de coisas que foram me chamando a atenção: tem uma luz que ilumina o texto de forma confortável, para ler em ambientes escuros, e eu adoro isso, porque gosto de ler no meu quarto com todas as luzes apagadas.

Outra coisa que me chamou a atenção é a duração da bateria, que pode chegar a um mês, e ao fato de que este modelo comporta até mil livros, em média. E tem a história da "tinta digital". É completamente de você estar lendo na tela do computador ou iPad, que agridem os olhos pelo brilho da tela. É uma leitura gostosa, parece mesmo que se está lendo numa página impressa.

Inicialmente, passei por um grande perrengue com o aparelho, mas por imprudência minha, até que um amigo, sempre tomado por enorme gentileza e deferência, me fez enxergar o que antes eu não queria ver, perdendo horas do seu dia, num outro estado, para ajudar-me a solucionar os problemas.

Há tempos eu já era instado a experimentar essa outra plataforma de leitura, mas meu medo e minha resistência não deixavam. Sou o tipo de pessoa que acha que um celular, por exemplo, basta fazer e receber ligações, mandar e receber mensagens e ter um despertador. Esse negócio de telefone que coa café, dança o Lepo-lepo e ainda te diz onde estão todas as blitzes não é pra mim. Aos poucos, entretanto, mudanças ocorrem. Sou resistente, mas não intransigente. Se a mudança vem para trazer melhoria e qualidade de vida, eu a recebo de braços abertos.

Nunca, jamais - olha eles aqui de novo! - abandonarei livros físicos. Enquanto eu viver e eles forem fabricados, encontrarei espaço para estes objetos em minha casa. Mas já sei, também, que muita coisa vai mudar - já está mudando - depois da chegada desse e-reader. Agora, livros físicos, só os essenciais. Só aqueles que vale mesmo a pena ter. É como DVD. Ocupar espaço, numa vida que requer de nós a adaptação a espaços cada vez menores, só com aquilo que for essencial. Assim, continuarei comprando e emprestando meus livros físicos com todo prazer. Isso não vai mudar.

Eu não migrei de uma plataforma para outra. Eu agreguei formas de ler, de interagir com o tempo em que vivo, de compreender as múltiplas nuances desse mundo que gira vertiginosamente.

Eu não poderia estar mais feliz com a minha aquisição. Ler agora tem um outro ritmo, mais dinâmico, porém sem perder a qualidade. 

Ler é, e continua sendo, um imenso e intenso prazer. E sempre será, seja em livros físicos ou digitais.

Bem-vindo, meu leitor digital.