A Delicadeza do Amor, filme de David Foenkinos

Apesar de ser um filme com a Audrey Tautou, (a eterna Amélie Poulain), que é uma atriz cujos trabalhos procuro conferir sempre, tive uma certa resistência para assistir este filme. O motivo é simples: o roteirista e diretor é ninguém menos que David Foenkinos, e este, por sua vez, é o autor do livro (A Delicadeza, editora Rocco) que deu origem ao filme. Ano passado, por duas vezes, comecei a ler este romance, e não prossegui. Achei o livro chato, claudicante, dessas leituras que emperram. Mas também já conheci quem gostasse muito, só que realmente não foi o meu caso.

Passada a resistência inicial, entretanto, fui tentar entender o que seria esta delicadeza do amor, do amar. E foi quando tive uma grata surpresa.

Apesar do título, não se trata nem de um dramalhão, ou seja, não é um filme piegas, nem, muito menos, uma comédia romântica. O filme nos entrega exatamente aquilo a que se propõe: narrar, em uma hora e quarenta minutos, um exemplo que demonstra, de uma forma surpreendentemente bela, o quão ampla a vida é, e nunca, jamais, estará circunscrita apenas àquilo que inicialmente julgamos como sendo o certo, ou o que nos cabe e, se não for, nada mais será.

Nathalie é uma jovem de beleza suave, alegre, feliz com as pequenas coisas da vida, que encontra em seu caminho François, um homem também de grande beleza, e os dois vivem um romance intenso e extremamente delicado. Ambos moram juntos e fazem planos de eternidade. Só que um acidente tira dela todos os seus planos de felicidade conjugal, e ela volta a sua vida para o trabalho. Cresce na empresa com naturalidade, e se esquiva, com destreza, das investidas de seu chefe. Até que um dia, de maneira inusitada, ela acaba por envolver-se com um colega de trabalho. Sendo ele subalterno a ela, e tendo uma aparência mais humilde e simples, ambos se veem sendo julgados e criticados onde quer que estejam. E ao final compreende-se que às vezes, para viver um grande amor, faz-se necessário nos libertarmos de alguns grilhões, sejam eles impostos pelo olhar do Outro, ou impostos por nós mesmos.

A sensibilidade - e a surpresa! - do amor de ambos, de descobrirem-se amando, é que faz o filme se desenvolver de uma forma ao mesmo tempo singela e forte, e nos brinda com um final igualmente simples, e extremamente tocante, porque imensamente humano.

A delicadeza do amor é um desses filmes com uma linguagem direta, mas de grande sutileza, que conduz o espectador, de emoção em emoção, às descobertas de si mesmo. Aquilo que muitas vezes não pensamos ser possível, nos damos conta de que sim, pode acontecer. É passível de acontecimento na vida real, porque mesmo as metáforas ali contidas, são reais, existem para nos tocar, nos sensibilizar e humanizar.

Chegamos ao último minuto com vontade de sermos amados não apenas do amor romântico, mas desejando que a Vida nos abrace. Já que estamos aqui, e estamos vivos, que possamos viver o Amor em sua plenitude, ainda que este próprio Amor nos dê susto, por vezes, por vezes também se perca, e que nos faça sofrer. A ideia é que a vida implica em sofrimento (também, mas não somente), e que temos de encarar as adversidades, ainda que inicialmente, não seja algo fácil, nem simples. A delicadeza do amor reside na delicadeza da vida, da alma. É como ver um quadro de Klimt, em toda a sua imensa estrutura que remete não apenas ao sexo, mas àquilo que une duas pessoas. 

Ver os últimos minutos, o que é dito por um dos personagens sobre o outro, é dessas forças que nos atravessam, mas o fazem com delicadeza. E são obras assim que fazem a gente sentir que este tal Amor, tão banalizado em filmes de gosto duvidoso e músicas de gosto mais duvidoso ainda, é atemporal, e algo tão inerente ao ser humano que, embora possamos questioná-lo, torna-se imperativo, também, vivê-lo.
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