Mil Tsurus, de Yasunari Kawabata



Depois de um tempo sem escrever para o blog, e tê-lo deixado esquecido em janeiro, finalmente retorno, com uma resenha literária, algo que eu também estava devendo há meses para este pobre espaço, já que fazia anos que ele não sabia o que era cheiro de livro, coitado. 

Pois bem: estou de volta com  Mil Tsurus, do japonês vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, em 1968, Yasunari Kawabata. 

Há tempos eu vinha enrolando a leitura de um outro Kawabata. Muito porque, depois que eu conheci japoneses que me impressionaram mais, como o Haruki Murakami (só pra ficar no mais hype do momento), e de buscar dedicar-me a outras obras, o tempo foi passando, passando, e ele não foi acontecendo novamente na minha vida.

Mas esse dia chegou. Peguei este livro porque soube que, há muitos anos, ele tinha sido publicado no Brasil com o título de Nuvens de pássaros brancos, que não sei porque diabos eu achei, na hora que li, um título super poético; me veio à cabeça uma imagem linda e gigantesca de uma nuvem de pássaros cobrindo tudo. Depois eu vim a saber que tsuru é justamente um pássaro japonês, e que se você imaginar que mil tsurus é realmente uma impressionante quantidade desses bichos, então realmente o cara que traduziu o livro da primeira vez tentou ser poético como talvez ele nunca tenha conseguido ser através de algo realmente seu.

Contudo, voltemos ao livro.

Mil Tsurus é ótimo pra quem está afim de compreender algumas questões do modo clássico de se viver na cultura japonesa. Descreve rituais de chá, os utensílios utilizados nesses rituais, os espaços dentro de uma casa voltados para isso... Mas vai além. 

O protagonista do romance, chamado Kikuji Mitani, é um jovem cujo pai morreu há não muito tempo. Durante uma cerimônia do chá, o rapaz se depara com duas ex-amantes de seu pai. Uma, a viúva Ota e a outra, Chikako Kurimoto. Sabe-se lá por qual motivo, Chikako resolve que vai arranjar um casamento para o Kikuji. Aliás, o autor faz uso desse personagem para criticar a banalização das cerimônias de chá, através dos gestos dela, que usa-se da cerimônia para se fazer de alcoviteira. Só que enquanto Chikako pensa em casá-lo, Kikuji tem um affair com a senhora Ota, ex-amante do seu pai e que tem uma filha, Fumiko, que também irá aparecer no romance, em seu devido tempo.

A pretendente imposta por Chikako, Yukiko, é a tal jovem que ajuda a dar título ao romance, já que ela é descrita como usando um lenço de seda com tsurus estampados. Tsurus são o símbolo da felicidade para a cultura japonesa. Mas parece que felicidade demais (mil), afoga o pássaro. 

Kikuji conhece a filha da senhora Ota, depois de ter encerrado o caso com ela, e acaba se envolvendo com ela. Mas Chikako está resolvida a casá-lo com Fumiko, a moça dos tsurus.

Sabe aquele ditado, quem tudo quer, tudo perde? Pois entenda-se assim o final do romance, que eu não vou contar aqui.

Achei o livro interessante para quem aprecia a cultura japonesa como eu, tendo como pano de fundo uma leve crítica aos hábitos ocidentais que já se imiscuíam no Japão pós-guerra (uma vez que o livro se passa no final da década de quarenta, começo da década de 50). 

Entretanto, falando francamente, que personagens chatos! O protagonista, Kikuji, é um fraco. Não se decide se quer se casar ou não, e não tem brios suficiente pra dizer à tal de Chikako que pare de encher o saco. A todo momento a mulher aparece na vida dele, visitando-o em casa sem se avisar, dizendo o que ele deve fazer, ou como, e ele é incapaz de dar um basta. Comecei a não gostar dele por aí. Você passa o livro esperando por este momento, e ele não ocorre. 

Os personagens são rasos, planos demais. Ninguém tem um pensamentozinho sequer que seja aprofundado em nada, o livro não se movimenta, as cenas são estáticas. Não me incomodo com isso, conquanto tenhamos personagens de maior relevância. Foi duro terminar este livro. 

Vou dar um tempo de Kawabata, pode ser que no próximo eu tenha mais sorte.

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2 Comentarios "Mil Tsurus, de Yasunari Kawabata"

  1. Eu confesso que não estava nem aí para a literatura japonesa, até saber que um tal de Haruki Murakami era favorito ao nobel literário do ano passado. Foi quando comecei a descobrir a literatura dele. E gostei muito. Meu próximo passo é o Kawabata. Preciso ler "A Casa das Belas adormecidas", porque inspirou o García Márquez em um livro que gosto muito. Mas ainda preciso comprá-lo.
    Abraços.

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  2. Caí de para-quedas no seu blog e achei muito curiosa a forma como declara "o cara que traduziu o livro da primeira vez tentou ser poético como talvez ele nunca tenha conseguido ser através de algo realmente seu" uma vez que o primeiro tradutor desta obra fora o escritor Paulo Hecker Filho, um dos melhores críticos literários de seu tempo.
    Longe de ser uma crítica, é apenas algo engraçado. :)

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