A biografia de Amy Winehouse, contada por seu pai

Capa da versão que li, norte-americana
Acabo de ler a biografia de Amy Winehouse através do olhar (muitas vezes complacente) do pai.

Trata-se de um relato verdadeiramente amoroso, de um homem que, sim, era o melhor amigo da sua filha (embora, como ele mesmo diga, não que ela sempre ouvisse seus conselhos), e que provavelmente precisava desse exercício catártico para enfrentar a dor da perda.

Amy, my daughter (numa tradução literal, "Amy, minha filha", ou na versão em português a ser lançada pela editora Record em agosto, num título escabrosa e desnecessariamente longo, Amy - a história da cantora contada por seu pai) começa com o pai narrando seus últimos momentos com a filha, que foram lindos, que estava realmente lutando pra se livrar do alcoolismo - e que estava a caminho de uma apresentação numa outra cidade quando, no dia seguinte, sábado, 23 de julho de 2011, recebeu a notícia de que sua filha estava morta. 

A partir daí, Mitch Winehouse passa a contar a história da filha desde o seu nascimento, até todos os anos que realmente importam para alguém que se interesse pela história de sua filha, ou seja: os anos de 2004 em diante, nos quais todas as agonias passadas pela família Winehouse e pessoas ligadas à ela foram exacerbadamente veiculadas pela mídia mundial. 

O que me levou a ler este livro, que flui muito bem, foi o meu interesse em saber o que o pai - justamente por ser o pai e eu saber que eles eram muito próximos - tinha a dizer sobre a vida da filha. Se você busca fofocas ou revelações bombásticas, esqueça. Este livro é uma longa e penosa declaração de amor de um pai para sua filha, disponibilizando para os interessados tudo aquilo que ele conseguiu enxergar - e ver - no decorrer dos quase 10 anos em que lutou, ao lado da filha, contra seu vício em drogas lícitas e ilícitas.

O livro é bem escrito, embora tenha uma série de repetições que poderiam ter passado na revisão, mas convenhamos: Mitch escreve bem. Escreveu um livro de trezentas páginas (em português parece que tem 380) que conduz o leitor, se não pela leveza dos acontecimentos, ao menos pela leveza da escrita, o que já é um alento.

Provavelmente, Mitch Winehouse sabe que será julgado pela mídia e pelos leitores como um pai que, embora sempre tenha estado ao lado da filha, também foi responsável, até certo ponto, por muitas das atitudes dela ao ver que, mesmo não tendo condições de agir por si própria, não interferia com mais severidade, mas que nunca - nunca - deixou de lutar pela vida do ser humano que mais amava no mundo.

A infância da cantora, as brincadeiras em família, os anos de estudo, as brigas, o divórcio, os primeiros usos de drogas, sua paixão obsessiva pelo homem que a apresentou às drogas, Blake Fielder-Civil, a tempestiva relação de Mitch com a família dele... a relação de tudo isso com a formação da personalidade que a cantora tinha e viria a ter - está tudo lá, de uma maneira bonita, pessoal e profundamente humana.

Curioso que sou a respeito da natureza do homem, daquilo que o move e o faz sentir e agir sobre o mundo, intrigado pelas questões do mundo das drogas e o poder que ela inflige àqueles que delas fazem uso, num nível psíquico e físico, e amante do jazz, tanto o clássico quanto o contemporâneo, não poderia deixar de ler a visão do pai sobre tudo o que houve. O livro é tão envolvente, que várias vezes, quando ela tinha uma melhora na sua relação abusiva com entorpecentes, eu cheguei a pensar, Ah, agora ela consegue!, como se eu não soubesse como tudo havia terminado.

O livro é seguramente emocionante, eu me vi de olhos marejados uma meia dúzia de vezes, não porque a narrativa seja melosa, mas porque há momentos em que você se pergunta: Como as pessoas ao redor dela conseguiram suportar tanto? Sem dúvida, porque havia amor. Outros motivos, cada qual sabe dos seus. Mas sobretudo porque havia amor. O que, sem dúvida, tocará no coração daqueles que sabem o que significa esse sentimento.

É um livro valioso para aqueles que gostam da cantora, um livro interessante para quem se interessa pelo objeto humano e, sem dúvida, imperdível para quem gostaria de entender mais o que transforma um ícone numa tragédia.

E, apesar de soar estranho, é, sim, um livro lindo.

Contém álbum de fotos inéditas do acervo da família. Todo o lucro das vendas será revertido para  a fundação Amy Winehouse, que apóia jovens com problemas com drogas, álcool e ajustes sociais.


Capa da versão brasileira, a sair em agosto



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3 Comentarios "A biografia de Amy Winehouse, contada por seu pai"

  1. não sou muito chegada a biografias, mas me deu vontade de ler! :)

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  2. Marco, esse post seu foi um dos melhores que já li.
    Muito bem escrito e saboroso, e me deu uma grande vontade de ler o livro.
    É realmente envolvente ver a luta das pessoas pela vida daquelas que amam. Infelizmente a mídia não ajudou em nada, tampouco os próprios fãs, que não se cansavam de rir dos chiliques da Amy.
    Valeu pelo post perfeito. Abraço e bjo,
    Adriana

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  3. Muito bom Marco! ainda não li essa biografia, mas irei adquirir o livro com certeza.

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