Stacey Kent ou Como se sente um homem ao encontrar um anjo

Quando digo que uma vida é pouco para descobrir e aproveitar tanta coisa boa que ela proporciona, ainda vejo espanto e interrogação no rosto de alguns. O que será que ele quer dizer com isso?, devem se perguntar. 

É preciso sensibilidade. Pra compreender que, ao se chegar num determinado ponto da vida, não há volta. Isso porque, quando se é muito jovem, tem-se aquela vívida sensação de que o tempo nunca passará. De que todos os ciclos em que nos metemos serão infinitos (namoros, faculdade, amizades...). E vivemos de pequenas lembranças, porque o tempo cronológico ainda é pequeno para se ter parâmetros. Ou para se compreender que a vida corre, e temos de cuidar pra que ela não escorra por entre os dedos do Tempo.

Assim, qual não foi minha surpresa ao descobrir a música de Stacey Kent. Pergunto-me onde estava todo esse tempo, que não sabia quem era ela. 

Nomeada para o Grammy, vencedora de vários prêmios que laureiam cantores de jazz, amante da música brasileira (que chegou a homenagear em vários de seus trabalhos, fazendo versões de músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, cantando o Brasil em Inglês, Francês... e Português, no seu mais recente álbum, ao vivo), Stacey Kent nasceu nos Estados Unidos há quase cinquenta anos. E é dessas vocalistas que embelezam a vida. Que enaltecem o fato de estarmos aqui, nesse lugar com tantos desafios, com tantas dores e achaques.

Stacey Kent veio para mim como uma surpresa dentro de uma surpresa. Conheci uma pessoa que me apresentou à sua obra, despertando assim o desejo. E do desejo realizado, momento de iluminação, vida. 

Tem como colaboradores o próprio marido, que compõe pra ela e toca na banda dela (e com quem ela está desde antes de ser cantora), o romancista Kazuo Ishiguro (autor de Vestígios do dia e Não me abandones jamais) e no seu último álbum, o poeta português Antonio Ladeira, que escreveu "O Comboio" pra que ela pudesse cantar em Português, dentre outras tantas pessoas de peso.

A primeira música dela que ouvi foi uma versão em Francês de "Samba da Benção", do Vinicius, que foi batizada de "Samba Saravah" (que você pode ouvir clicando aqui). Eu, amante que sou do poetinha, corri pra ouvir outras coisas.

Logo apaixonei-me por dois álbuns distintos: Breakfast on the morning tram, de 2007 e com o qual ela foi indicada ao Grammy (uma das músicas que mais gosto, Ces Petits Riens, você pode ouvir aqui) e, logo em seguida, fui arrebatado pelo álbum Raconte-moi, (Diga-me), de 2010, no qual ela canta uma música que já é linda desde o título: Les vacances au bord de la mer (Férias à beira-mar, que você ouve aqui), que é perfeita em tudo e pra tudo. Daquelas canções que se ouve apaixonado, solteiro, acompanhado, sozinho, nos bons e maus momentos. E é isso que traduz a arte, essa capacidade de ser plural, de transmutar-se em significados.





E é com esse prazer e essa alegria (e também essa pieguice) que concluo a resenha de hoje. Vou usufruir, ao largo, dos cinco álbuns que tenho aqui comigo. Longa vida a essa tão importante cantora do jazz contemporâneo, que, através de sua arte, é capaz de engrandecer a alma e tocar os corações. 


Ainda bem que te encontrei.




Stacey e o marido e produtor, Jim








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3 Comentarios "Stacey Kent ou Como se sente um homem ao encontrar um anjo"

  1. Poxa, voltou a postar no blog que bom! já estava sentindo falta agora uma pergunta fora do assunto você gosta da cantora Roberta Sá?

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  2. Oi, Mary. Obrigado pelas amáveis palavras.

    Sim, adoro Roberta Sá! Já fui a 3 shows dela aqui em Fortaleza, ela é fantástica.

    Sobre a Stacey Kent, busque conhecê-la. A obra dela é maravilhosa... E a melhor surpresa que tive: ela vem fazer show aqui, acredita? É ou não é estar no paraíso? :D

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  3. Oi, Marco! vou buscar conhecer essa cantora sim! Adoro Jazz que bom que você vai curta bastante assisti ao show de estreia de Roberta Sá da nova turnê "Segunda Pele" aqui em Salvador, gostei muito.

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