Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá

Como se pode medir a vida humana? 

Seria pesando as conquistas, juntamente com os dias de sucesso e os momentos que também pareceram insignificantes? O que levar em consideração ao avaliar a jornada de toda uma vida?

Fábio Moon e Gabriel Bá não nos dão todas as respostas, mas sem dúvida dão várias pistas para que nós mesmos investiguemos as saídas na primeira graphic novel que li em 2012 - e, sem dúvida, já consta na lista de um dos melhores livros do ano.

Daytripper é um romance que celebra a vida. Um romance que celebra os grandes momentos da vida, bem como os pequenos (reconhecendo a ideia de que Deus está nas pequenas coisas, nos detalhes), vendo-os como tão importantes quanto - e deixando claro para o leitor que a morte é parte inerente à vida - seja a minha, a do vizinho, a sua. A de qualquer um.


A HQ nos apresenta a Brás de Oliva Domingos, que é filho de um famoso escritor brasileiro, sendo ele mesmo algo semelhante a isso, pois escreve comoventes obituários para um jornal local no Brasil. Chamado de "milagrinho" por sua mãe (achei essa alcunha bastante ridícula da parte do tradutor, ficaria mais bonito e poético "pequeno milagre" mesmo) por conta de um evento que se deu quando ele nasceu, Brás passa todo o romance se questionando acerca da morte em si. 

Logo no primeiro capítulo, num determinado momento, em que ele vai a um evento de gala em honra de seu pai, ele dá uma passada num bar em busca de cigarros e algo acontece que muda completamente a sua vida.

Cada capítulo, à exceção de um, lida com uma idade na vida de Brás, sendo sua idade (11, 37, 41, 76 e por aí vai) o título do capítulo.

Embora permeando cada capítulo, a morte não é o fim da história de Brás nem dos que estão ao seu redor. Pelo contrário: é o recomeço ou verdadeiro começo. Cada página é repleta de altos e baixos na vida dele, incluindo aí a Indesejada.


Conhecemos Brás na casa dos vinte, com seu melhor amigo, Jorge, numa viagem a Salvador onde ele conhece uma bela mulher por quem se sente imediatamente atraído e com quem vive uma tórrida paixão... Vemos a vida dar voltas e ele encontrar um outro grande e verdadeiro amor... o nascimento do seu filho, a morte do pai, o emprego dos sonhos, o reconhecimento do público, o primeiro beijo. O livro vai e volta no tempo não como forma de captar a atenção do leitor, mas como a nos fazer entender que assim é a mente humana, não-cronológica, fora de ordem. 


Depois de conhecermos Brás em sua amplitude humana, dentre todas as descobertas, amores, perdas, vitórias pessoais, encontramos o personagem no final da vida, com o filho já um adulto visitando os pais. É então que duas coisas lindas, poéticas e sensibilíssimas acontecem no final, mas eu não posso contar nessa resenha. O que posso dizer é que cada um de nós experimenta a vida de uma forma única, e absorve tudo aquilo que ela tem a oferecer. E o que vemos no final é que há sim, bons e maus momentos em nossas vidas mas que, observando-a como um todo, tudo o que vivemos é parte da nossa existência, parte do todo que é estarmos vivos e termos tido a oportunidade de viver a vida em tudo que ela tem a nos dar. 

Através do traço mágico e glorioso de Fábio Moon e Gabriel Bá temos a oportunidade de ver a arte da vida de uma forma que você consegue sentir o que Brás sente e sentir empatia por ele porque Brás é, na verdade, cada um de nós. E Daytripper consegue fazer isso de forma clara e fácil. Além disso, as cores da graphic novel são de deixar o leitor embevecido, sendo cada quadro uma verdadeira obra de arte tão boa quanto o traço e o texto dos irmãos gêmeos desenhistas/escritores.


Não há palavra melhor para definir este romance gráfico do que obra-prima. Um livro de rara sensibilidade, que vai encantar o leitor, sensibilizá-lo, e fazê-lo refletir, independente de qual seja o seu estilo literário favorito. 




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2 Comentarios "Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá"

  1. Adorei sua resenha e fiquei curiosa pra ler. Vc leu em inglês ou nessa edição que tá na banca, que dizem que é bacunada?
    Parece bem interessante mesmo.
    Valeu!

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  2. Li em Português. Mas comprei meu exemplar na Cultura. É mais do que interessante, é estupenda! Vale cada página, Dri. Leia assim que puder!

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