Das saudades eternas

         




 Hoje me peguei pensando na morte dos meus pais, que ainda não morreram e espero que ainda fiquem por aqui por um bom tempo, obrigado.
      Desde que eles viajaram, noto em mim um sentimento que não costuma se assomar em meu peito com tanta frequência em relação a eles: a saudade. Estando os meus pais num merecido passeio Brasil à fora - afinal, passaram anos e anos trabalhando duro pra quê? - , ponho-me a refletir sobre a ausência de ambos.
      O interessante é que, como moramos na mesma cidade, mas em lugares distintos há mais de meia década, não sinto tanta falta deles quando sei que os teria e tenho ali, à mão. 
      Desço as escadas em direção à garagem do prédio pensando: E se eu bater o carro nesses dias em que eles não estão por aqui? E se eu atropelar alguém? E se o carro simplesmente parar de funcionar? Rapidamente, o nome e a imagem de um punhado de amigos que me socorreriam num momento desses me vêm à mente, num lampejo reconfortante. Mesmo assim, seriam pelos meus pais que eu gostaria de gritar por auxílio primeiro num momento de pânico. 
     Tal sentimento me invade insolitamente, já que desde cedo acostumei-me a contar com amigos nas horas das agruras, mas vai saber o que fica impresso nas cavernas escuras das nossas mentes, naqueles recônditos onde nem o pensamento chega...
      É então que penso na ausência que todos nós um dia seremos para alguém, cedo ou tarde. Inevitavelmente, penso em minha própria mortalidade e que, cumprindo-se o ciclo da vida, aqueles a quem hoje chamo de "meus velhos" mas que ainda não o são, um dia serão, e hão de ir-se antes de mim.
      Não faz tanto tempo assim, compartilhei em sala de aula dia desses, com a voz embargada, ao falarmos de família, que outro dia meu pai esteve aqui em casa e, ao ver a torneira do meu banheiro pingando, rapidamente prontificou-se a pegar umas ferramentas e se deitar sob ela, desatarrachando parafusos e roscas até que - plim! - "meu velhinho" havia consertado minha pia, que estava lá, estalando de nova. E aos 63 anos, não é todo pai que sabe dar uma de torneiro-mecânico embaixo de uma pia num espaço nada convidativo ao resto do corpo... Mas o meu estava lá. 
     Foi então que imaginei que, em vinte anos, ele certamente não poderá fazer isso, e novamente a certeza da finitude, e uma saudade antecipada me apertaram o peito.

   Da mesma forma, não é muito diferente o apreço pela minha mãe, que também errou pra caramba, mas que nasceu pra ser exatamente o que ela é: mãe. Houvesse essa profissão na vida, a minha já saberia exercê-la com maestria desde o berço. 

    Pergunto-me então como será lidar com essa dor. Um dia terei essa resposta, mas não hoje. Não amanhã; de preferência, de jeito nenhum. Só que se for desse jeito, é porque eles é que terão de sofrer com a minha ausência, e o que seria pior? 

      

     O que fazer quando a saudade não puder ser saciada com um abraço e um beijo depois que as malas forem postas para descansar no chão?
     O que fazer quando não houver, de jeito nenhum, remédio para a saudade?

     Por isso, enquanto há tempo, já que logo mais estarão de volta, eu possa, num beijo simples, num abraço gostoso e no afago e aconchego do amor entre pais e filhos, encurtar as distâncias desse sentimento infinito.
         
      Voltem logo. Tímido como seja, há amor aqui esperando.

      


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4 Comentarios "Das saudades eternas"

  1. Texto lindo e a tua cara, Marquitcho! Euzinha, no auge da minha adolescência (hahah) me pego pensando em como vai ser quando eu não puder mais matar a saudade dos meus pais com qualquer carinho.. mas o negócio é aproveitar. Aproveitar enquanto há vida, né? E já que o assunto é esse.. saudade de ti! beijinhos da sua ex-aluna preferida, Clara! =))
    ps, meu sonho sempre foi te falar que eu lia e adorava teu blog, mas sempre esquecia! heheh hope you read this, kisseesss

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  2. Oi, Clara, my darling!

    SAUDADE de ti, mulher!!! Coisa boa que vc andou passando por aqui...!

    Obrigado pelas palavras. Venha sempre que quiser (pena que eu não atualizo como deveria).

    Um beijo grande, te adoro!

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  3. É assunto que dói- tenho saudades do meu q se foi há anos- a mãe se depede todos os dias dos filhos- acaba d eme ligar p ir buscar umas coisas q quer me dar antes de partir...
    disse q está na fila de espera. Será triste qd se for.
    Eu penso nos meus filhos, qdo eu me for- será mt triste p eles, somos praticamente só os 3. Eu tenho a idade do seu pai, acredita? pois é... estou inteirinha e tapeio bem.
    Bj Elianne
    O blog q eu me referi no outro comentário é o Caminhar:
    www.lauravive.blogspot.com
    a Adriana tem meu e-mail, se quiser, nós conversamos via e-mail.

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  4. Claro que quero, Elianne! Já vou pegar!

    Beijo.

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