Nossa eterna síndrome tupiniquim



Engraçado como existem coisas que parecem não mudar nunca. Afinal, de onde as pessoas tiraram essa bobajada de ficar bajulando o presidente dos Estados Unidos quando de sua passagem por aqui neste mês de março?


Sim, a explicação tem raízes históricas, claro. Desde que a França deixou de ser o ponto de cultura mais visado no mundo e o referencial passou a ser tudo aquilo que os Estados Unidos fazem e produzem, logo o povo daqui tratou de adotar a mesmíssima modalidade de vida para si, o que é, no mínimo, passível de reflexão. Agora o Obama vem para o Brasil com status de celebridade, e não como chefe de Estado.

Sem contar aquelas manchetes espetaculares, do tipo "Obama tenta fazer embaixadinhas" e "Michelle Obama tira o blazer". Façam-me o favor.

A caminho do Chile a esta altura, quero ver é o quanto ficou de fato deste encontro entre Barack Obama e Dilma Rousseff. E o "bom" nisso é que a imprensa, como sempre, lança "notícias" e factóides como sem fossem reais, como a ideia de que ele iria retirar a necessidade de visto daqueles que almejam sair daqui para viajar aos Estados Unidos. E as pessoas compraram a ideia!

Nelson Rodrigues já dizia que o brasileiro sofre de uma síndrome de vira-lata. Custa a mim compreender é até quando isso vai durar, e se um dia buscaremos ser a nação soberana que aparentemente temos nos tornado, ou dito aos quatro ventos que temos nos tornado.

Acreditei muito no governo do Lula, acompanhei as melhorias em nosso país em praticamente todas as vertentes possíveis. Tenho uma fé enorme (e olhe que não sou homem de usar esta palavra associada a mim) no governo da Dilma, mas aquela campanha lançada no governo do Lula, de que temos orgulho de sermos brasileiros, precisa ganhar outros contornos.

Que orgulho é esse, que é aniquilado pelos gostos e prazeres vindos da América do Norte ou que, se não o são, se mesclam de tal forma aos nossos gostos e padrões que ninguém sabe mais o que é legítimo daqui e o que veio de lá. Novamente, cabe aqui uma reflexão.

Não concordo que o ser humano não precise de heróis, como disse Bertolt Brecht ("Triste do povo que precisa de heróis!"); acredito, inclusive, que o ser humano precisa de heróis comuns, nos quais possam se inspirar e alavancar - ou até criar - uma auto-estima adormecida. O que nós não podemos fazer, em hipótese alguma, é permitirmo-nos esse tipo de comportamento subalterno, degradante, até, no sentido de que, porque o homem vem da pretensa maior potência do mundo, torna-se aqui a maior celebridade mundial. Como assim?


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