Desde que me entendo por gente, responsabilizo o Marcos Rey por me tornar o viciado em livros que sou hoje. Não tem jeito, foi realmente através dos livros dele que vim a amar a palavra escrita e o livro, com seus cheiros, formatos, tramas que me arrebatam.
Descobri o Marcos através da série Vaga-lume, que me proporcionou grandes momentos de prazer, quando na pré-adolescência, me sentindo um estranho em terra estranha, eu recebia livros dessa série e ficava na cama descobrindo minha língua e autores maravilhosos.
Até que um dia cresci e, nas minhas muitas correspondências com o Marcos, ele me disse, Por que você não lê um livro meu para adultos? Conselho recebido, pedido atendido. Na época, li um que ele tinha acabado de lançar: Os crimes do Olho-de-boi. Gamei. Daí pra descobrir que ele é muito melhor autor de livros pra adultos do que infanto-juvenis foi um salto (ou eu que teria crescido, não sei). Foi também nessa época que eu descobri autores franceses, alemães e russos, então imagine a loucura na cabeça da criança.
O certo é que, após a morte do Marcos, em 1999, e depois de uma breve passagem pela Companhia das Letras, Palma Donato, esposa do autor, entregou à editora Global a obra quase que inteira do marido. Confesso que, tirando as capas dos livros juvenis, que achei por demais abobalhadas, eles têm feito um trabalho fantástico com os livros pra adultos, imprimindo os livros num papel amarelado gostoso de ler, numa fonte ótima e capas de Victor Burton, tá bom pra você? Procuro ler um livro dele a cada ano, pra não faltar o que ler tão cedo do meu quase xará, e já que detonei todos os juvenis nessa época da vida, me restam os pra adultos, que vou dosando...
Pois bem, o livro que acabo de ler tem como título Esta noite ou nunca e, se não é dos clássicos do autor, como o são Memórias de um Gigolô, Café na Cama e O Enterro da Cafetina, sem dúvida é literatura brasileira que vale a pena o investimento. Sabe quando a praia por si só vale o mergulho? (Ou a piscina, a banheira, seja lá onde você goste de mergulhar).
Esta noite ou nunca foi publicado em 1988, e tem ares autobiográficos. Conta a história de um homem que, com vocação pra escritor, torna-se autor de roteiros de pornochanchadas, gênero genuinamente brasileiro, que fez muito sucesso nos idos da década de 60 e 70 no cinema nacional. O quê autobiográfico reside no fato de que o próprio Marcos, antes de viver de literatura através dos livros que publicava na já mencionada Vaga-lume, era dos autores de pornochanchadas mais solicitados na paulicéia desvairada.
O certo é que o narrador se mete em zilhões de confusões tanto com os caras com quem mora, como com a atriz que roda a maioria dos seus filmes, como com... enfim, todo mundo. As situações são hilárias, as sacadas do Marcos são de deixar o leitor com um sorriso na mente, e a trama é muito gostosa de ler. Às vezes me chateia o fato de hoje Marcos ter ficado meio obscurecido enquanto autor. Acho isso deveras uma m****. Se uma pessoa não aprender a gostar de ler através de um livro desses, pode enterrar. Não tem como não se afeiçoar aos personagens e seus descaminhos.
E para aqueles que já são apaixonados por literatura, e querem se dar ao trabalho de curtir ainda mais a literatura brasileira, leiam esse livro, e tudo mais que a Global vem publicando do Marcos Rey. Esta noite ou nunca é uma pedrada!
Oi Marco, querido,
ResponderExcluirAdorei seu texto, foi um dos mais inspirados, mas também não é pra menos, em se tratando de Marcos Rey!
Também amo todos os livros da série Vaga-lume, e claro que Marcos Rey era o mestre absoluto, escrevendo clássicos insuperáveis e formando toda uma geração.
Para adultos, um livro dele que eu amo é o Malditos Paulistas, a melhor coisa que já li sobre SP, e que reflete com perfeição a alma da paulicéia. Um livro raro e muito gostoso de ser lido!
Abração! Aguardo novas homenagens ou novos perfis dos nossos queridos autores!
Adriana