Ao encontrar o amor: o Amor



(Para ler ao som dessa música, que será comentada mais adiante)








É comum para qualquer um de nós ficarmos buscando explicação onde não há nenhuma, ou, por outra, onde pode até existir, mas é algo que recorrerá a tantas sessões de psicanálise e/ou tantas sessões de regressão, para aqueles que acreditam no valor que elas têm, que ficaria difícil mensurar em termos de tempo em quantos dias, meses ou anos seria possível remontar explicações relevantes para isso, daí talvez não valer a pena compreender aquilo que parece já ter vindo dentro de cada um de nós, como se já estivesse lá, dentro do nosso chip.


Porque eu gosto de sorvete de menta com chocolate e detesto sorvete puramente de chocolate? Porque prefiro água à Coca-cola (tá, nem sempre, mas a maior parte do tempo). Por que prefiro Agatha Christie a Conan Doyle, Dean Koontz a Stephen King, José Lins do Rêgo a Jorge Amado?


O cerne da questão é: o que fez de mim um cara que, ao mesmo tempo que é ranzinza é bem humorado e um cara incrivelmente romântico e apaixonado? Não sei, não saberia dizer.

A verdade é que a vida me levou a ser um homem que acredita no amor entre duas pessoas, sejam lá quais forem essas pessoas, suas condições sociais, seus backgrounds.

Hoje cedo, descobri que há uma música da cantora britânica Sade que não entrou em seu mais novo álbum, de 2010, Soldier of Love (aliás, para quem quiser, a música que dá título ao álbum pode ser ouvida nesse link, e também é lindíssima). O título da música é Love is found (O amor foi encontrado). E isso me remeteu, de imediato, ao fato de eu estar amando, de ser um homem apaixonado. Sim, encontrei o Amor. Não um amor qualquer, não um amor em minúscula. A vida me trouxe um amor verdadeiro, um amor sem precedentes. Por que ao ouvir a música logo lembrei do meu Amor, Deus saberá. A explicação, talvez, remeta ao simples fato de que a gente não precise explicar certas coisas na vida. Elas são assim, axiomas, explicam-se sem palavras, sem gestos nem imagens. Apenas são.

E é justamente desse tipo de Amor que fala Love is found da Sade. Fazia tempo que precisava descobrir música boa, e Sade sem dúvida foi a melhor redescoberta de minha vida recente. Passei 2010 encantado com este novo álbum dela, e ter descoberto essa música logo cedo foi um presente não apenas para mim, mas para todos aqueles que sabem o que é Amar.

É justamente ao ouvirmos a voz de Sade dizendo que sabe o que quer, que eu me banho na certeza nítida de que eu também, Sade, encontrei o Amor.

Indignação, de Philip Roth






Há tempos venho me cobrando falar de Philip Roth nesse espaço, e sempre adio porque nunca sei
exatamente qual abordagem deveria ter.

Foi quando me veio a ideia de fazer uma série de breves perfis literários, como o do post logo abaixo desse, e comecei pelo de uma escritora fascinante pela qual também sou apaixonado.

Mas não sou menos alucinado pelo Philip Roth, um dos atuais sérios candidatos ao prêmio Nobel de Literatura, e que também só vim a descobrir tardiamente em minha vida, por

"insistência" de uma outra escritora cujas crônicas adoro, a Martha Medeiros. Foi quando descobri um dos melhores autores que já li na vida.

Entretanto, não é dele que quero falar, e sim de sua primeira obra lida por mim.

Indignação (Companhia das Letras, 2009, 176 páginas), lida, primariamente, com a questão das escolhas que fazemos, ainda na juventude, que poderão dar o tom e a cor de diversos caminhos em nossas vidas. O que pode resultar em algo como tragédias gregas, como algo retirado dos trechos a seguir:


“Só é ditoso aquele que tem a consciência tranquila, e não é ferido pelos golpes da desgraça.” “Não consideremos feliz nenhum ser humano enquanto ele não tiver atingido, sem sofrer os golpes da fatalidade, o termo de sua vida.” “Não é lícito aos mortais evitar as desgraças que o destino lhes reserva.”

Os trechos acima têm algo em comum. Todos eles são falas que encerram tragédias gregas clássicas (Electra, Édipo-Rei e Antígona, pela ordem). São meio que lições finais que o autor das peças reservava para o público. Um ensinamento que podia se tirar de toda aquela desgraceira que havia ocorrido no palco. E lá iriam os atenienses para casa, depois do teatro, ruminando como eram as coisas da vida.

O romance pega emprestado o recurso de que os gregos tanto gostavam. Depois de contar a história de Marcus Messner, o autor resume tudo o que relatou com uma frase do gênero. “As escolhas mais banais, mais casuais, até cômicas de alguém podem gerar resultados desproporcionais.”

Marcus Messner, o garoto da história, na verdade, não tem nada de personagem de tragédia grega – exceto pela tragédia que vive. É apenas um menino recém-saído da adolescência e entrando na vida adulta. Filho de um açougueiro judeu de classe média, tenta levar uma vida menos dura do que a de seus pais. É o primeiro de sua família a conseguir ir para uma faculdade.

E, durante a maior parte do livro, a história que você lê é apenas essa: a de um garoto conhecendo a vida. Mas, o que você não sabe, ou pelo menos demora para se tocar, é que todos aqueles acontecimentos simples, quase banais, estão formando uma cadeia cada vez maior. E levando o personagem cada vez mais para perto da tragédia.

Irritado com o pai, o açougueiro, que é absolutamente paranoico com a segurança do menino, Marcus se muda de Nova Jérsei para Ohio. (Não fosse por isso, Marcus poderia ter se salvado, saberemos mais tarde.) Na nova universidade, conhece uma garota linda e, digamos, bastante desinibida. (Se isso não tivesse acontecido...) Por causa dela, Marcus briga com um colega de quarto e se muda (Se ele soubesse...) E assim por diante, até que, uma hora, a tragédia realmente acontece. E você, como um ateniense de 25 séculos atrás, larga o livro e fica ruminando a última frase que acabaram de lhe ensinar. Até os atos mais tolos podem gerar acontecimentos desproporcionais.

E esse talvez seja o grande mérito do livro de Roth. O livro realmente faz você pensar. De uma maneira sutil, no meio da história das descobertas sexuais e da indignação de um adolescente revoltado com a vida, vão surgindo temas para lá de importantes. Religião, guerra e família, só para citar três. E, em todos eles, Roth tem muito o que dizer.

Mas é como em uma tragédia grega. Se você quiser, dá para dispensar tudo isso. E aproveitar só a trama central. O rei que não sabia ter casado com a própria mãe. A moça que não pode enterrar o corpo do irmão. O matricídio cometido por Orestes. Ou, no caso de "Indignação", a vida de um adolescente tentando descobrir um mundo que o machuca. E também desse jeito a leitura é para lá de recomendada.

Seja lá como o leitor conseguir atingir o livro, abordá-lo (e ainda tem a possibilidade de ler o livro baseando-se pelo título, que poderia resultar em indigna nação, já que as coisas que acontecem a ele estão intrinsecamente ligadas à guerra, assim, pois, uma nação indigna que sujeita qualquer filho seu a atos de atrocidade que podem resultar em tragédia), é um livro que eu tenho enorme prazer de ter lido. Não é o melhor dos livros dele que li até agora, mas sem dúvida, um dos que merecem estar em nossa prateleira de livros lidos.

Rosa Montero - Perfil Literário





















Nunca me faltou o que ler em casa, muito porque, sempre que eu queria um livro, eu tinha
três métodos: juntava a mesada, ganhava de amigos que já sabiam o que me faria feliz, ou fazia uma outra coisa escusa que não vale a pena mencionar aqui.

Mesmo assim, sempre ávido por novas descobertas, estava sempre a perguntar amigos sobre novos autores, novas fronteiras, novas possibilidades. Foi então que um dia, conversando sobre literatura com um colega de São Paulo, ele diz, Você conhece Rosa Montero? Não, quem é? Uma escritora espanhola. Você tem que ler. Comece por A Louca da Casa. Fui pesquisar sobre o livro, achei muito interessante. Foi então que começou minha história com Rosa Montero.

BREVE PERFIL

Rosa Montero nasceu em Madri, Espanha, em 1951. Estudou Jornalismo e Psicologia, tendo abandonado esta última no quarto semestre. Colaborou com alguns grupos de teatro independente, e desde 1976 é jornalista exclusiva do jornal El País, um dos mais importantes da Espanha. Em 2010, recebeu o título de doutora Honoris causa, outorgado pela Universidade de Porto rico. Publicou seu primeiro romance, Crónica del Desamor, em 1979, e desde então dedica-se à arte da palavra em tempo integral, como jornalista e escritora.

"Escrevemos para dar ao mal e à dor um sentido que sabemos que eles não têm".



Em geral, os livros de Rosa Montero tratam daquilo que nos torna humanos, da moral política, da ética individual, da sensibilidade que nos percorre, a necessidade do outro, a memória, a identidade. Tudo isso assomando-se a um humor marcadamente seu, e uma linguagem elegante e arrebatadora.

Foi sem saber de tudo isso que comecei a ler A Louca da Casa, um de seus livros mais famosos e premiados. Trata-se de um romance com características de memórias, no qual a autora reflete sobre o ato de escrever, e como isto é capaz de mudar a vida das pessoas. Nele, ela opina sobre vários escritores, e como eles ajudaram-na a construir a sua personalidade e sua própria vida. No entremeio dessas reflexões, Rosa não coloca uma trama que se sobrepõe a outra, o que torna o livro uma viagem ao mais íntimo de nós mesmos, com bilhete só de ida, posto que, uma vez que se mergulha no mundo da autora, aprendemos mais sobre nós mesmos, e este é um caminho sem volta.

Deste livro, passei para o extraordinário A Filha do Canibal, outro romance seu muito premiado.

Em março deste ano, Rosa Montero publicou Lágrimas en la Lluvia, numa inesperada incursão pelo gênero de ficção-científica. Segundo a própria autora, é um livro de aventuras, um livro que trata da eterna busca do sentido da existência, é um thriller existencial e da "tragédia básica do ser humano, que é a de ter tantos desejos e tão poucas possibilidades de cumprir-los". O livro se passa em 2109, em Madri, e parece ser mais uma obra magistral da autora, que juntou num livro aparentemente de suspense, uma trama profunda, com seu jeito característico de escrever e fascinar.



Recomendo, portanto, a leitura dos dois livros em Português mencionados acima. Descubram Rosa Montero, uma escritora contemporânea, que é pra sempre.

Assista a um vídeo da escritora falando sobre o seu novo livro neste link.