Acabo de ver num site da internet que a escritora Anne Rice, que ficou famosa no final da década de 70 com o seu "Entrevista com o Vampiro", acaba de deixar a Igreja Católica, a qual havia se convertido depois da morte de seu marido, Stan Rice, em 2002. O aviso dela teve um tom solene, e eu o coloco na íntegra:
"Para aqueles que se importam, e eu compreendo se não for seu caso: Hoje eu deixei de ser cristã. Estou fora. Permaneço comprometida com Cristo, como sempre, mas não em ser "cristã" ou parte do cristianismo. Para mim, é simplesmente impossível "pertencer" a esse grupo briguento, hostil, repleto de disputas e merecidamente abominável. Por dez anos, eu tentei. Não deu certo. Estou fora. Minha consciência não permite outra decisão."
Lindo. Um exemplo de lucidez, ainda que tardia. Mas tem mais:
"Como eu disse abaixo, eu abandono a fé cristã. Estou fora. Em nome de Cristo, eu me recuso a ser anti-gay. Eu me recuso a ser anti-feminista. Eu me recuso a ser anti-controle artificial da natalidade. Eu me recuso a ser anti-democrata. Eu me recuso a ser anti o humanismo secular. Eu me recuso a ser contra a ciência. Eu me recuso a ser contra a vida. Em nome de Cristo, eu abandono o cristianismo e a fé cristã. Amém."
E por último:
"Minha fé em Cristo é central para a minha vida. Minha conversão de uma atéia pessimista perdida num mundo que eu não compreendia, para uma otimista que acredita num universo criado por um Deus de amor é crucial para mim. Mas seguir a cristo não significa seguir Seus seguidores. Cristo é infinitamente mais importante do que o cristianismo e sempre será, não importa o que o cristianismo seja, tem sido ou poderá se tornar."
Dito isso, acho que cabem algumas palavras de reflexão.
Eu nunca fui leitor de Anne Rice. Confesso que tentei ler seu "Entrevista com o Vampiro". Achei muito bem escrito, mas muito descritivo e cansei logo. Talvez não tivesse sido o momento. Um dia retomarei a leitura. Já o seu livro "Cristo Senhor", eu li rapidamente, e gostei muito.
Quem me conhece sabe que tenho duas grandes obsessões na vida: religião e morte. São dois temas muito caros pra mim. Um por ser a base da construção das sociedades ao longo dos séculos (infelizmente), e outro por ser um assunto simples, mas que as pessoas teimam em fazer de tabu.
Quando eu li na mídia que a Anne Rice, uma mulher séria, que eu sei que é intelectual, estudiosíssima, instruída, inteligente, havia se permitido uma lavagem cerebral e se convertido ao cristianismo de uma forma cega, que não permitia questionamento, fiquei estupefato. Também disse que jamais voltaria a escrever sobre vampiros e que seu objetivo de vida a partir daquele momento era escrever sobre Cristo. O velho e conhecido fanático religioso, em outras palavras. Quem nunca conheceu um na vida? Pois agora tínhamos um com potencial de atingir milhões, que era a escritora Anne Rice. Eu fiquei doido pra ver os desdobramentos disso.
No fim das contas, seu séquito caiu muito. Fato. Mas ela conquistou o clamor e a ovação daqueles que já criam em Deus, geralmente um público igualmente fanático e não-aberto ao diálogo.
Sua desconversão ao cristianismo é um alento para mim. Não por eu ser anti-Cristo. Não sou. Não vejo este homem como filho de Deus nem salvador de nada, mas respeito sua emblemática figura histórica. O fato de ela ter resolvido sair da Igreja Católica me toca pelo simples fato dela ter resolvido abandonar uma Igreja que tem tudo de abominável, como a que ela seguia. Uma Igreja cega, surda e muda para as coisas do mundo. E que, no fim, o que prevaleceu foi a inteligência desta mulher, que foi honesta consigo mesma e com seu discernimento e senso crítico perante as coisas do mundo e, por conseguinte, com a vida.
Alguém tem alguma opinião a respeito?
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