Nunca pensei que algum dia na vida iria a um show da Madonna.
Os motivos são muitos: quando mais novo, não achava que um dia teria dinheiro pra isso (ingresso, passagens de avião, hospedagem - mas ainda bem que esse pensamento é apenas um tosco devaneio/delírio infanto-juvenil). Também nunca fui um ardoroso fã da artista. Cheguei a comprar alguns álbuns dela quando adolescente, baixei outros, que ouvia, depois deixava pra lá, muito porque meus ouvidos foram se voltando para coisas que ouço mais, até hoje, como jazz, música clássica e rock.
Até que, no meio do caminho, aconteceu o Amor.
Contando já mais de trinta anos, observando o mundo à minha volta e fazendo as necessárias leituras de tudo o que me cerca - assim como também do sublime, do não-dito, dos interstícios - , compreendo que há poucas coisas que o Amor não é capaz de fazer, todas elas, coisas ruins. Amar transforma homens e mulheres, exerce sobre cada um de nós um poder avassalador que beira o sobrenatural - talvez porque seja, mesmo.
Assim foi que, por Amor, por vontade de conhecer cada vez mais o mundo da pessoa amada e adentrar nele, por saber ser esta pessoa todo um universo extraordinário de infinitas possibilidades e grande sabedoria, inteligência e grande exemplar de beleza humana - em todos os sentidos da palavra - , permiti-me (e me permitirei, sempre) adentrar nos meandros do mundo alheio, aconchegar-me no Desconhecido para mim que o Outro tem a desnovelar para o meu próprio universo. E o que seria do amor e do amar sem suas trocas? E Madonna veio parar na minha - nossa - vida.
Ingressos e passagens foram comprados com enorme antecedência, e quando menos esperamos, lá estávamos.
Quero dizer, com um orgulho pouco velado, que fui sorteado para ficar numa área muito próxima à cantora e, podendo levar um acompanhante, ficamos lá juntos, o que nos permitiu ter o privilégio de ter uma visão ainda mais espetacular do show.
O show começa com um trio entoando cantos gregorianos, em um ambiente que lembra uma catedral. Um sino puxado para todos os lados termina por quebrar um vidro, de onde se vê Madonna dentro de um confessionário, suspenso. É então que ela sai do véu por trás deste confessionário e percebe-se que ela tem um rifle nas mãos. Madonna começa a cantar Girl Gone Wild, a primeira faixa do novo álbum, MDNA. Começa aí o bloco (o primeiro, de um total de quatro) chamado Transgressão (alguém aí consegue ver isso como novidade na carreira da cantora?) que, se não é exatamente algo inédito para ela, certamente torna-se inovador ao fazer uso de expressões e cenários de violência, quando é perceptível que ela está exorcizando seus demônios particulares, como suas desavenças com o irmão, e o divórcio tumultuado de Guy Ritchie.
Segue-se a tudo isso o bloco Profecia, que é onde fica situada a famosa rusga dela com Lady Gaga (que pra mim é marketing total, e nada mais), quando ela canta Express yourself seguida de Born this way. Diz-se que Gaga inspirou-se livremente na música de Madonna para compor a melodia de sua canção. Eu, particularmente, não enxergo essa semelhança, mas... O que importa é que a profecia, aqui, diz respeito às questões da cultura pop, com essa de ela ser copiada por outros artistas, passando por essa mistura retrô com algo futurista (como quando ela canta Give me all your luvin' com roupas de cheerleaders americanas e pompons que em algo remetem aos anos 80, mas com uma banda que canta suspensa, acima das cabeças de todo mundo, lembrando que a música, assim como o som que Madonna faz, está acima e avante de tudo). O bloco termina com Masterpiece, ou seja, de forma sublime: a música gira em torno de alguém que ama profundamente, e compara o ser amado a uma obra-prima. Assim, a profecia maior é a do amor que é construído, como uma obra de arte; a profecia maior é a do Amor realizado, tal qual uma pintura, uma escultura, um livro, cuja arte fale por si só: aqui está o produto final, não apenas para que seja venerado por aqueles que se dispuserem a olhar para ele, mas para que seja visto e analisado por gerações ainda no porvir, e compreendam o que é este verdadeiramente extraordinário sentimento.
No terceiro bloco, intitulado Masculino/Feminino, Madonna escolheu a dedo canções suas que trabalham a questão da imagem, de como o ser humano pode ser visto, quer ser visto e é visto, e que, o que sobra na verdade, é que podemos ser tudo e nada, somos resquícios de ambos os sexos, somos realidade e quimera. É um bloco sensacional, em que músicas como Vogue, Candy Shop, Human Nature, Nobody Knows Me são executadas, transmitindo essa mensagem que é, no mínimo, um tapa na cara de todo mundo.
O último bloco, Redenção, traz Madonna vestida em roupas que a tornam uma mulher quase medieval, pronta para dizer a todos que sim, ela é uma pecadora, mas que gosta disso (pra mim, a melhor música do novo álbum). É nesse bloco também que Like a Prayer é executada de uma forma tão transcendental que me emocionou ao ponto de me levar às lágrimas. Todos os seus bailarinos formam um imenso coral, enquanto escritos em hebráico aparecem na tela de led atrás deles. É um número lindo, rico, grandioso e que faz nossos espíritos se elevarem às alturas.
Ao final, Madonna volta ao palco mais modernosa, cantando junto com seus bailarinos e bailarinas a última música, Celebration, que é precisamente isso: uma maneira de dizer que a vida deve ser uma celebração, esse agregar de sons, ritmos, cores, luzes, e que embora o show vá chegando ao fim, a vida, que é o que temos de celebrar, continua.
E que ótima maneira de concluir o espetáculo.
Tive uma certeza gigantesca, terminado o show: Madonna faz jus àquela máxima de que, na verdade, não importam certas características relativas à grandeza. Digo isso porque, sabidamente, Madonna não tem uma grande voz, no sentido de alcançar grandes notas. Mas ela prova que faz uso formidável daquilo que tem. É simplesmente sensacional ver uma mulher de cinquenta e quatro anos dançando, interpretando, cantando e interagindo com o público da maneira que eu vi na noite de 05 de dezembro. Foi, sem dúvida, o maior espetáculo que já vi, em todos os sentidos sensoriais possíveis.
Se estar ao lado de quem amo ajudou nessa sensação? Sem dúvida. Engrandeceu ainda mais o evento, tornando-o ainda mais único e especial. Poderia ser diferente? Nunca. Foi um dia especial que entrou para a minha biografia, e sei que jamais esquecerei dele.
Mas o óbvio, não importam os detratores, é que Madonna é, sim, a maior entertainer do cenário de música pop do mundo. Não importa quem veio depois dela, ninguém conseguiu, e dificilmente conseguirá superar, aquela que é, seguramente, um grande ícone.
Longa vida a esta mulher sinônimo de força, sagacidade e inteligência.
Longa vida ao Amor, que constrói pontes.
Madonna, nos vemos novamente em 2016!
Segue-se a tudo isso o bloco Profecia, que é onde fica situada a famosa rusga dela com Lady Gaga (que pra mim é marketing total, e nada mais), quando ela canta Express yourself seguida de Born this way. Diz-se que Gaga inspirou-se livremente na música de Madonna para compor a melodia de sua canção. Eu, particularmente, não enxergo essa semelhança, mas... O que importa é que a profecia, aqui, diz respeito às questões da cultura pop, com essa de ela ser copiada por outros artistas, passando por essa mistura retrô com algo futurista (como quando ela canta Give me all your luvin' com roupas de cheerleaders americanas e pompons que em algo remetem aos anos 80, mas com uma banda que canta suspensa, acima das cabeças de todo mundo, lembrando que a música, assim como o som que Madonna faz, está acima e avante de tudo). O bloco termina com Masterpiece, ou seja, de forma sublime: a música gira em torno de alguém que ama profundamente, e compara o ser amado a uma obra-prima. Assim, a profecia maior é a do amor que é construído, como uma obra de arte; a profecia maior é a do Amor realizado, tal qual uma pintura, uma escultura, um livro, cuja arte fale por si só: aqui está o produto final, não apenas para que seja venerado por aqueles que se dispuserem a olhar para ele, mas para que seja visto e analisado por gerações ainda no porvir, e compreendam o que é este verdadeiramente extraordinário sentimento.
No terceiro bloco, intitulado Masculino/Feminino, Madonna escolheu a dedo canções suas que trabalham a questão da imagem, de como o ser humano pode ser visto, quer ser visto e é visto, e que, o que sobra na verdade, é que podemos ser tudo e nada, somos resquícios de ambos os sexos, somos realidade e quimera. É um bloco sensacional, em que músicas como Vogue, Candy Shop, Human Nature, Nobody Knows Me são executadas, transmitindo essa mensagem que é, no mínimo, um tapa na cara de todo mundo.
O último bloco, Redenção, traz Madonna vestida em roupas que a tornam uma mulher quase medieval, pronta para dizer a todos que sim, ela é uma pecadora, mas que gosta disso (pra mim, a melhor música do novo álbum). É nesse bloco também que Like a Prayer é executada de uma forma tão transcendental que me emocionou ao ponto de me levar às lágrimas. Todos os seus bailarinos formam um imenso coral, enquanto escritos em hebráico aparecem na tela de led atrás deles. É um número lindo, rico, grandioso e que faz nossos espíritos se elevarem às alturas.
Ao final, Madonna volta ao palco mais modernosa, cantando junto com seus bailarinos e bailarinas a última música, Celebration, que é precisamente isso: uma maneira de dizer que a vida deve ser uma celebração, esse agregar de sons, ritmos, cores, luzes, e que embora o show vá chegando ao fim, a vida, que é o que temos de celebrar, continua.
E que ótima maneira de concluir o espetáculo.
Tive uma certeza gigantesca, terminado o show: Madonna faz jus àquela máxima de que, na verdade, não importam certas características relativas à grandeza. Digo isso porque, sabidamente, Madonna não tem uma grande voz, no sentido de alcançar grandes notas. Mas ela prova que faz uso formidável daquilo que tem. É simplesmente sensacional ver uma mulher de cinquenta e quatro anos dançando, interpretando, cantando e interagindo com o público da maneira que eu vi na noite de 05 de dezembro. Foi, sem dúvida, o maior espetáculo que já vi, em todos os sentidos sensoriais possíveis.
Se estar ao lado de quem amo ajudou nessa sensação? Sem dúvida. Engrandeceu ainda mais o evento, tornando-o ainda mais único e especial. Poderia ser diferente? Nunca. Foi um dia especial que entrou para a minha biografia, e sei que jamais esquecerei dele.
Mas o óbvio, não importam os detratores, é que Madonna é, sim, a maior entertainer do cenário de música pop do mundo. Não importa quem veio depois dela, ninguém conseguiu, e dificilmente conseguirá superar, aquela que é, seguramente, um grande ícone.
Longa vida a esta mulher sinônimo de força, sagacidade e inteligência.
Longa vida ao Amor, que constrói pontes.
Madonna, nos vemos novamente em 2016!
"Eu cantarei de amor tão docemente,
ResponderExcluirPor uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente." (Camões)
Marco, que análise bonita! Constatei o que antevia pelas entrevistas,matérias na TV: Madonna é uma tremenda atriz, dançarina e cantora, que sabe usar sua voz dentro das limitações que tem (mal comparando, o mesmo se dá com Roberto Carlos).
Mas o que mais me tocou foram suas palavras sobre o Amor, o sentimento que nos eleva ao céu e nos atira ao inferno.
"Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?" CDA)
;))
Já li e reli esse post incontáveis vezes. E é totalmente impossível não me comover, não rememorar, com intensa emoção, os momentos incríveis, fascinantes e plenos de amor e felicidade que vivemos ao longo desse dia... momentos e sentimentos que se espraiaram pelos dias subsequentes e que repercutem até hoje. E que repercutirão por muitos e muitos tempos. Pois o Amor é a força motriz de toda essa experiência. É o núcleo, o âmago, a alma. A nossa Alma.
ResponderExcluirH. Luz