A teoria do "Te pego lá fora"


Há gente que para tudo acha o que reclamar da vida.

Desde o dia, que não amanheceu como ele ou ela gostaria que tivesse, por estar mais quente ou mais frio, ao filho que resolveu brincar no chão e se sujar todo, aos bichos que cria, que dão trabalho demais, da falta de tempo para si.

Outros reclamam de coisas mais sérias, como algo sem nome que nasceu debaixo do braço e não sabe ainda no que vai dar, do dinheiro que não dá até o final do mês, da família difícil de lidar, do distanciamento dos amigos...

Mas, se de acordo com Shakespeare, a quem foram atribuídas certas verdades universais, "não há mal que não se acabe nem bem que sempre dure", porque as pessoas gostam tanto de reclamar, como se a luta diária fosse contra a vida e não a favor dela? Afinal, por que brigamos tanto? Por quem? Para quê? Não é justamente por querermos dias melhores que nos desdobramos em vinte para darmos conta de casa, trabalho, namoros, amigos, família e tudo o mais que se interpõe entre essas coisas? (Sempre deixando algum desses descontente, mas quem é perfeito? Quem?)

A verdade é que muita gente ao nosso redor trata a Vida como se ela estivesse em constante promessa de nos pegar na saída, de nos encher de pancada e nos maltratar até não mais poder. E, por esse motivo, não param de se maldizer, de demonstrar toda a sua insatisfação com os dias que correm e no qual ainda estão, miraculosamente - imerecidamente? - respirando.

Pois a verdade é que estar vivo, é sim, um ato de fé, de coragem, de gratidão. De fato, não é fácil viver. As dívidas, dificuldades de lidar com o outro, as surpresas nem sempre agradáveis do dia a dia e as constantes perdas estão aí para nos mostrar e comprovar isso. Mas agir perante tudo isso em constante posição de ataque não ajuda em nada a amenizar o fardo. Pelo contrário; ele se torna mais óbvio, mais vistoso não só para si, mas pra todos que o cercam e, com isso, mais difícil de ser carregado.

Viver a Vida como se estivéssemos num campo de batalha onde a única certeza é a da perda, é ignóbil, de uma pequenez de alma atordoante, amarfanha o espírito, que deveria estar sempre em riste, pronto não só para lutar, mas para permitir-se ser pleno, honesto consigo mesmo - seja lá o que isso represente para cada um de nós - e buscar, isso sim, falar mais de coisas boas, refrear a língua antes não apenas de soltar impropérios, mas também de soltar mazelas através da boca.

Viver é o maior ato de amor que pode existir, e é através dele que podemos transformar, que nada mais é do que mudar a forma. Não está satisfeito com sua vida? Mude a sua forma, transforme-a.

Mais fácil dito do que feito? É? Pois paremos de olhar a vida como se estivéssemos na parte mais alta de algum lugar prestes a despencar, tome fôlego e lutemos o bom combate.

É dando o primeiro passo que encontramos a direção.
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2 Comentarios "A teoria do "Te pego lá fora""

  1. Boa, Marcoooooo!

    O segredo é procurar a beleza do mundo. ( ou da vida; depende da relação que os dois termos representa pra você)

    Inácio.

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  2. Esse texto me lembrou a frase de Gandhi: "Temos que ser a transformação que queremos no mundo".
    Um abraço.

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