Fim, de Fernanda Torres

Fim, de Fernanda Torres


Depois de uma certa idade, não há quem nunca tenha pensado a respeito da própria finitude. Ou da finitude, como um todo.

Fernanda Torres pensou em (pelo menos) cinco. 

Agradável surpresa no final de 2013, a consagrada atriz aventurou-se pela primeira vez no campo das letras, mais precisamente, do romance, e demonstra nesta seara que parece já ter vindo pronta. O livro é muito bom. 

Mas venha comigo entender algumas das razões pra isso.

A trama narra a história de cinco amigos que se conheceram e moram no Rio de Janeiro. Só que ela não faz isso de forma linear. Dividiu o romance em cinco partes, e cada parte abre com a data de nascimento e de morte do personagem em questão. Além disso, cada uma delas começa sendo narrada em primeira pessoa, com o futuro finado como protagonista, até o momento de sua morte. Daí pra frente dentro do mesmo capítulo, a trama passa a ter uma narrativa focada na vida daquele personagem tal como vista pelas pessoas de suas vidas: filhos, esposas, amantes, amigos - aqui, em terceira pessoa, com um narrador onisciente. E nós, leitores, ficamos sabendo o que cada um dos amigos pensa a respeito do outro, como as famílias de um com a do outro se davam - ou não - e que tipo de desfecho teve aquela tal trama. 

Assim é que, construindo um romance em camadas, Fernanda Torres consegue prender a atenção do leitor com uma obra madura e muito bem escrita. 

Aos poucos, nos deparamos com um amplo grupo de personagens e seus próprios dramas, e em muitos momentos o leitor acaba por ficar, ele mesmo, conjeturando sobre as situações descritas e trazendo para sua própria realidade.

Contudo, não encontramos em Fim (Companhia das Letras, 203 páginas) um romance melancólico sobre os últimos dias. O que vemos é um romance repleto de vida e, como toda vida, culmina com sua extinção. Só que, dentro de tudo isso, encontramos farras, alegrias, dores, amores e desamores, conquistas e descartes, muita vontade de viver, de ser livre, ou de ser livre junto com alguém. Tudo isso permeado pelo sol carioca, por reflexões sobre a nossa própria condição - não apenas a da finitude, mas a humana. Aquilo que nos leva a crer, ou não crer, em algo. Nossas esperanças e medos. 

A característica que tornou Fernanda Torres conhecida também está lá: o humor. Mas o romance é muito mais do que isso, e mesmo o humor é feito de uma forma inteligente, sensível. 

A sensação que temos é a de que a autora já vinha publicando há anos, tal é o resultado desta obra. Um livro simples mas não superficial, fluido mas que privilegia a inteligência do leitor. Uma obra que, enfim, deve ser lida em breves fôlegos, tal sua intensidade.

E nos resta pedir que Fernanda Torres continue a dedicar-se à arte da escrita. Eis aí uma autora que promete grandes momentos de leituras e uma grande obra. 
Uma defesa do best-seller

Uma defesa do best-seller


Muito já se falou e se escreveu sobre os livros que vendem mais do que cachaça  em boteco dia de sábado, os “famigerados” best-sellers, exaltados por um determinado nicho de leitores e execrados por outro, o dos que “leem coisa melhor” e que, aliás, se pudessem, mandava queimar os da primeira turma, best-sellers e tudo, numa enorme fogueira, bem longe do dia de São João, que era pra todo mundo saber que o evento ali é festivo, mas por outro motivo, no melhor estilo Inquisição naquela época em que todo mundo que tinha qualquer poderzinho andava gritando feito a Rainha de Copas por aí, querendo tocar fogo ou cortar a cabeça de todo mundo, diante de plateias ávidas e sedentas.

E aviso logo que não estou aqui pra falar novidade alguma (tem como, sendo esse o tópico?). “Por que escrever sobre o assunto, então?”, já posso ouvir vocês perguntando daí. E eu respondo: porque sim. Porque eu quero e acho que devo. Além do mais, eu também tenho história pra contar a esse respeito. Estou aqui, na verdade, por dois motivos bárbaros (segundo a definição dos gregos e romanos, por favor): 1) falar da minha relação com a dita categoria de livros. (Fazer relato pessoal não deixa de ser uma boa oportunidade para trocar ideias) e 2) para defender essas obras de gosto duvidoso (e seus leitores também).

A fim de uma conversinha de pé de ouvido? Então vem.

Nunca ouvi falar de ninguém – ninguém mesmo, zero, nada – que tenha começado a ler por obras já consideradas estupendas, importantes etc e tal. Aliás, existem dessas obras que hoje são consideradas ícones, mas que, na época de sua publicação, eram populares que nem pão quente. Exemplo disso? Charles Dickens. Dickens era o Sidney Sheldon, o Harry Potter, os vampiros do Crepúsculo, da Era Vitoriana, em termos de vendas. Seus livros chegavam de navio, e tinha gente pulando dentro d’água no afã de pegá-los o quanto antes (talvez sem lembrar que para isso o livro teria de ficar encharcado, mas naquele tempo ninguém sabia ainda o que é histeria coletiva. Tenho minha dúvidas se hoje sabem, também). E atualmente, embora quase ninguém o leia, ele é considerado um “grande autor”, seja lá o que isso possa significar nas entrelinhas.

Pois bem, retomemos minha apologia ao best-seller.

Assim que eu comecei a ler, ganhei aqueles livros com figuras enormes e duas linhas com letras para míopes. Lembro de um do Pedro Bandeira, chamado Trocando as bolas, que era precisamente assim. E Pedro Bandeira já era, naquele tempo, um autor best-seller. Talvez dos poucos brasileiros que se sustentam só com literatura. E este foi meu primeiro livro da turma dos mais vendidos.

A partir daí, não parei mais. Com pouco tempo, estava lendo a série Vaga-lume, outro enorme best-seller. Aliás, era o que a moçada da minha geração mais lia naqueles tempos. Uma série inesquecível que até hoje reverbera em muitos dos caminhos que tomei enquanto leitor. Os livros de Marcos Rey, ou clássicos como O Escaravelho do Diabo, Éramos Seis, A Ilha Perdida, dentre tantos outros, quem nunca?

Descobrir outros best-sellers da época, tais como Sidney Sheldon, Danielle Steel  Harold Robbins, Agatha Christie, foi uma questão de (pouquíssimo) tempo. E eu devorava tudo, compartilhava tudo o que podia, trocava muitas coisas além dos livros: ideias, reflexões, pensamentos. E foi também quando o amor pela literatura se estabeleceu para sempre. Incondicionalmente. Não é à toa que eu digo que minha relação mais duradoura na vida não é com gente: é com os livros.

Foi mais ou menos por essa época, também, que eu vi o primeiro nariz ser torcido para aquilo que eu lia. Não me perguntem qual era o livro, mas certamente era alguém da turma mencionada acima, ou algo muito semelhante. Ouvi algo do tipo, “isso não é literatura. Quer ler algo que preste, vá ler Camus, Zola, Machado de Assis, Calvino blá blá blá” – a lista foi longa. Bocejei na cara do sujeito e continuei minha leitura.

Tempos depois, eu viria a descobrir esses e muitos outros da lista, mencionados ou não, sempre gostando mais de uns, menos de outros e nada de outros. Émile Zola, por exemplo, é um que não desce e eu não gasto mais meu tempo com ele.

Longos anos mais tarde, quando eu já havia dado uma guinada no tipo de livro que lia, surgiram outros campeões de vendas, Harry Potter e a saga Crepúsculo encabeçando a lista. Inicialmente, eu quis seguir a maioria execradora de livros e leitores de best-sellers. E quando meu nariz também se preparava pra torcer, eu me dei conta: menos moralismo, por favor. Você começou pelo equivalente a todos esses que estão aí.

Eu achava muito estranho aquelas vendas estratosféricas (não sei se Sidney Sheldon vendia como um Harry Potter, embora tivesse edições sucessivas de seus livros nos tempos áureos, mas a impressão que eu tinha, era que os best-sellers do final dos anos 90 em diante vendiam mais, bem mais). No fundo, eu tinha era inveja. Queria escrever, queria ser um deles, e minha reação era chamar de feio o que não era espelho, fazer uvas maduras se passarem por verdes.

Ler best-seller é sempre melhor do que não ler coisa alguma. Livros são vertentes para a vida, e a vida é, na maioria dos casos, melhor do que a morte. Viver implica em criar, em transgredir, em se reinventar. A leitura escancara todas essas possibilidades. É arte. Octavio Paz já dizia que o homem nada mais é do que imaginação e desejo. É através do sublime ato criador que podemos chegar aos píncaros do gozo.

E tem mais: esperneiem-se o quanto quiserem com a hipocrisia moralista, ninguém nunca vai tirar os best-sellers de mercado. Na verdade, a tendência é que estes continuem flamejantes nas prateleiras, nos e-readers, e quem tem de se cuidar são os autores da dita “literatura séria” (o que, convenhamos, também é uma lástima).

Ainda hoje, passados trinta anos daquele primeiro best-seller, me custa compreender por que as pessoas têm tanto prazer em cuspir em quem lê livros que estão nas listas dos mais vendidos. Não raro, leitores evoluem, por mais que se diga o contrário. E voltando ao que eu disse no começo, não conheço um só ser humano que tenha se voltado para o mundo da leitura sem antes ter passado pelo conjunto dos livros que vendem aos milhares ou milhões.

Ninguém tem a obrigação de ler Harry Potter, nem toda essa gama de livros que elevam o sexo em seus livros à condição de protagonistas, acima inclusive de tramas mais elaboradas. Nem livros sobre vampiros, nem a última moda em torno de bestas que se veem convivendo com seres humanos, os zumbis, além de Dan Brown e seu detetive que desvenda códigos. Isso para não falar em Paulo Coelho, Martha Medeiros e esse monte de padre enrustido que publica livro adoidado e que também vendem em quantidades grandiloquentes, coisa de deixar todos os outros escritores brasileiros se doendo de inveja.

Daí você pode me ver e perguntar, E como é a sua relação com estes livros? Quase nula, responderei com serenidade. Um ou dois, dentre os quase cinquenta livros que leio a cada ano. E isso não invalida sua defesa?, alguns perguntarão, quase apontando um dedo. Tanto quanto invalidaria um heterossexual por defender os direitos de um homossexual, ou de alguém em pleno controle de seu corpo defender os direitos de alguém com graves limitações. Portanto, não. O fato de eu (quase) não ler best-sellers não me tira o direito de apoiar aqueles que o fazem.

Evidentemente, estaria sendo hipócrita se dissesse aqui que não mantenho um fio de esperança de que este grupo de leitores – a maioria, diga-se de passagem – possa vir a ler outras coisas. Mas e daí se não o fizerem? Estão lendo, estão consumindo livros.

E nos dias que correm, qualquer coisa que tire alguém da frente do Faustão e afins é lucro. Se é pra perder tempo com mero entretenimento, pelo menos o fazem em silêncio, sem tirar o juízo de ninguém, com uma televisão desligada, ao invés de ligada em programecos dominicais.

De resto, que a gente possa ouvir What a wonderful world acreditando em cada palavra do que canta Louis Armstrong. Se tudo vai contra ele, o que nos resta é a esperança. E o mundo bem pode ser sim, maravilhoso.

É só a gente começar a parar de se incomodar com o que o outro anda fazendo, vendo, lendo. A literatura não pode ser – não deveria ser – mais um fator de segregação entre as pessoas. A verdade não poderia ser mais clara: ao nos incomodarmos menos com a vida dos outros, passamos a viver a nossa. E é bem aí que poucos enxergam estar a possibilidade da transgressão. O necessário passo que se dá e que te faz saltar por cima de um abismo, que é você mesmo. 
A Cabeça do Santo, de Socorro Acioli

A Cabeça do Santo, de Socorro Acioli


Em A Cabeça do Santo, de Socorro Acioli, o real e o fantástico se unem para dialogar sobre misticismo, fé, poder e amor, num jogo de espelhos que leva o leitor a vivenciar cada instante,  numa trama de fôlego arrebatadora.



Algo em torno de 180 quilômetros separam Fortaleza da cidade onde mora minha avó. Quando criança, qualquer dia de folga era motivo para ir visitá-la, (sem contar com as férias, o que tornava o trajeto uma obrigação. E ai de quem dissesse lá em casa que não queria ir visitar a "vó". No mínimo, ganhava uma surra e o direito de ir correndo fazer a mala sem fazer bico). 

No caminho até lá, vegetação seca de um lado e do outro. Em alguns lugares, um verdinho aqui e ali. Muitas igrejas, um posto de gasolina, gente caminhando ou andando de bicicleta pelo acostamento, além de vários bichos magrinhos, feiosos, caminhando naquele estreito fio de terra entre o asfalto e o mato, em busca de um destino. Eu sempre me perguntava onde aquelas pessoas e bichos moravam, já que eu não enxergava casa alguma perto de onde estavam seus pés. 

Entre um bocejar e um pedido para o meu pai mudar a música do carro e colocar algo que eu ou minha irmã gostássemos, de vez em quando passávamos por algo que lembrava uma comunidade qualquer. Um dia, lembro-me bem, minha mãe virou-se para o banco traseiro e disse pra mim e pra minha irmã: "Olhem pra esquerda de vocês! Tão vendo ali, em cima daquele morro?"


Estávamos. Àquela distância, parecia um palito enfiado em um monte de areia. "O que é aquilo?", um de nós perguntou. Nessa hora, como em boa família onde há uma hierarquia, minha mãe deu a deixa para o meu pai, que foi nos contar a história. Mais ou menos. Aquilo ali em cima era o corpo de um santo. Deveria ter tido uma cabeça, mas o prefeito era ladrão, roubou o dinheiro que iria pagar o pessoal que ia levar a cabeça lá pra cima, e ela ficou bolando em algum lugar nas ruas da cidade, e sabe-se lá por qual motivo, nunca mais quiseram levar a tal cabeça lá pra cima. Naquele tempo não me ocorreriam perguntas mais profundas sobre as razões e circunstâncias, então eu disse algo como: "Eles deviam fazer um bingo, e com o dinheiro arrecadado, pagavam alguém pra colocar a cabeça lá". Pesos, medidas, logística (e lógica) nunca foram mesmo meu forte. 

O POLÊMICO CORPO DE SANTO ANTONIO SEM A CABEÇA EM CARIDADE - CEARÁ. THE CONTROVERSIAL SAINT ANTHONY'S BODY WITHOUT HIS HEAD IN CARIDADE - CEARÁ

"E dá pra ver a cabeça?", perguntei.
"Dá. Na volta a gente passa devagarzinho e vocês ficam olhando pra essas ruazinhas que dá pra ver ela lá, enorme, deitada".

A partir dali, eu contava os dias para que voltássemos para Fortaleza, porque agora eu queria virar a minha cabeça para o outro lado, em busca do pedaço que faltava ao santo. Dias depois, fazendo o caminho de volta, meu pai cumpriu o prometido. Avisou que estávamos chegando em Caridade - cidade cujo nome achei muito curioso - , a terra da cidade com a estátua do santo sem cabeça. Eu e minha irmã ficamos olhando para aquela enormidade. Mesmo dali, a gente via que era algo descomunal. Era como se estivéssemos vendo uma parte de Golias, derrotado, no chão. Seguimos para a capital com a cabeça dando voltas e imaginando mil coisas.


Vinte anos se passaram entre o momento em que esta cabeça foi parar no chão e a escritora Socorro Acioli resolver que havia um mote neste fato envolvendo a cidade.

De 2006 para cá, ela saiu de um trabalho de carteira assinada, resolveu que queria ser escritora em tempo integral, continuou colecionando recortes de notícias que poderiam render ficção, participou de um curso de uma semana com Gabriel García Márquez em Cuba, ganhou um prêmio Jabuti, viu sua popularidade crescer, montou um curso de criação literária e trouxe ao mundo a história de Samuel.

A Cabeça do Santo (Companhia das Letras, 176 páginas, R$37), romance publicado em fevereiro de 2014, conta a história de Samuel, um jovem de vinte e poucos anos que vive em Juazeiro do Norte com a mãe até que, mortalmente doente, ela lhe pede para que vá até a cidade de Candeia (nome fictício que recebeu a cidade de Caridade no romance) para conhecer a avó e o pai, que nunca chegou a conhecer. 

Devoto de um intenso amor pela mãe - devoção essa que não nutre por santo nem fé alguma, ao contrário de sua mãe - , Samuel segue caminho a pé rumo à cidade. Ao chegar por lá, depara-se com uma realidade a um só tempo assustadora e deprimente:  a cidade encontra-se quase abandonada e, após passar por situações dolorosas, acaba abrigando-se na cabeça oca de um santo, porque é ali o único lugar onde pode se recolher, já que não tem um só centavo.

Não demora, Samuel acorda com o barulho de vozes em sua cabeça. Confuso, cogitando até que ponto demora antes de tornar-se louco, ele descobre que tem o dom de ouvir rezas de mulheres da cidade, que pedem, sobretudo, o amor, um casamento, a felicidade. 

Ao conhecer Francisco, um jovem garoto morador da cidade, tem a ideia de explorar seu dom e assim, além de unir as pessoas, ganhar também algum dinheiro. Só que, pouco a pouco, não apenas a pequena Candeia, como também Samuel e Francisco, estarão inseridos numa teia de proporções muito maiores do que eles poderiam conceber, despertando todos os santos e demônios dentro de cada um naquele lugar e fora dele. E como se não bastasse, há também uma voz que se destaca das outras e que, através do canto, lhe diz muito mais coisas do que o solo empedernido do seu coração quer acreditar...


Li este romance ao longo de cinco dias. Poderiam ter sido dois, ou um só. O leitor começa o romance da Socorro Acioli e é arrebatado para um universo tão comum no Brasil, mas ao mesmo tempo tão psicodélico e maravilhoso quanto o de Alice. 

Numa história onde muito do que parece ser na verdade não é, e muito do que é, é mais forte do que se imagina, somos levados a conhecer personagens construídos de maneira forte e poética, nas quais as influências da própria autora - Ondjaki, García Márquez, Juan Rulfo, cada qual com sua epígrafe no livro antes de cada parte - se misturam ao seu poder criativo e domínio da trama. 

Em um universo também amplamente desnudado por grandes escritores da América Latina, como Julio Cortázar, Adolfo Bioy Casares (além dos já mencionados) e seus universos de realismo fantástico, Socorro Acioli traz a sua própria verve e voz para dentro de uma história a um só tempo mágica e dura, de tão real.

Romance construído através de capítulos curtos e intensos (todos iniciados pela letra "C", denotando aí algo que fica a critério do leitor e sua compreensão), onde cada coisa parece ter sido colocada para o leitor ter deleite e também para simbolizar o que viria, como o verde que não está no sertão, mas está em coisas usadas pelo personagem principal, que sonha em lançar-se aos verdes mares... Temos em A Cabeça do Santo um romance curto mas amplo, belamente construído, de uma tessitura que deixa o leitor querendo que a história não terminasse ali, desejando começar outro romance da autora imediatamente após a leitura deste. 

Mas aí está a verdade deixada nas camadas de grandes livros: muito do que se lê é também a leitura de cada um. O autor nos apresenta os fatos. Socorro Acioli nos apresentou Samuel, Francisco, Niceia e tantos outros, dando vida a pessoas que passamos a querer bem ou a odiar. A história para além da história, cabe a nós imaginar.

Ou, quem sabe, cabe à autora nos contá-la, num outro momento, já que a trama tem fôlego para isso.

Seja Samuel, seja outro personagem qualquer, o que importa é que com A Cabeça do Santo, Socorro Acioli lançou uma semente ao vento. E fica a certeza de que, se já começou bem desse jeito, outras que vier a lançar sempre gerarão sólidas árvores e saborosos frutos.

Que venham os próximos, então.

Socorro Acioli